18/03/2025

Abbas Kiarostami, morto em 2016, passou os últimos três anos de sua vida trabalhando nesse projeto, "24 Frames". O documentário experimental reúne 24 segmentos curtos inspirados em filmes, fotografias e imagens que influenciaram o diretor ao longo de sua carreira.

post-ex_7
24 quadros por segundo é a velocidade das imagens no cinema, de maneira a enganar o cérebro humano e fazer parecer que fotografias estáticas estão em movimento. Em seu último filme, 24 Frames, o iraniano Abbas Kiarostami, morto em 2016, brinca com esse conceito ao dar vida a imagens estáticas que, aos poucos, se transformam. Em 24 quadros apresentados no longa, ele radicaliza com um conceito que já havia elaborado em Five, de 2003.
 
É um conceito simples, mas seu resultado é uma meditação poderosa sobre a manipulação da imagem e, por consequência, de como o cinema é uma "mentira” que as imagens contam ao nosso cérebro. O filme começa com o famoso quadro de Pieter Bruegel, Caçadores na neve, do século XVI. A tela é toda tomada pela pintura, com sons condizentes à cena que, lentamente, ganha vida. Aos olhos de alguns pode ser uma heresia, mas Kiarostami é um mestre da imagem e sabia muito bem o que fazia.
 
As 24 sequências partem de fotografias e pinturas que serviram de inspiração ao cineasta iraniano ao longo de sua carreira de quase cinco décadas, encerrada abruptamente com sua morte. Ele trabalhou nesse projeto por mais de três anos, deixando prontos 30 segmentos. Outros que ficaram inacabados foram concluídos por seu filho, Ahmad Kiarostami, que também fez a seleção final a partir do projeto original. “Os outros que ficaram de fora não serão lançados. O filme está pronto da forma como foi concebido e não faz sentido mostrar os outros segmentos,” declarou Ahmad ao Cineweb, na Mostra de São Paulo de 2017, quando esteve na cidade para acompanhar a exibição do último filme do pai.
 
Se de um lado 24 Frames é como uma visita a uma galeria de arte, por outro existe uma espécie de manipulação do diretor ao nos forçar a ver pelo tempo que ele escolheu cada uma dessas peças. Assim, somos obrigados a encarar cada uma delas sem muita opção de desviar o olhar, por isso, mais do que um filme, aqui se tem uma experiência artística – o cinema acaba sendo apenas mais uma das mídias, mas a mais importante, aquela que media nossa relação com as outras e também nos impõe sua própria velocidade.
post