Entre os diretores do suspense de terror Na solidão da noite, está o brasileiro Alberto Cavalcanti (assinando apenas com o sobrenome), que dirige um dos melhores episódios do longa coletivo: o último, envolvendo um ventríloquo e seu boneco. Mas isso não quer dizer que os demais segmentos – assinados por Charles Crichton, Robert Hamer e Basil Dearden – sejam ruins, pelo contrário, essa coletânea mantém um alto nível cinematográfico.
Partido de textos diversos, de autores como H.G. Wells e Angus MacPhail (roteirista de Alfred Hitchcock em filmes como Quando fala o coração e O homem errado), que também assina o roteiro, ao lado de John Baines, o filme cria uma atmosfera de suspense e claustrofobia a partir da reunião de um grupo de pessoas numa casa de campo, depois da chegada de um desconhecido, o arquiteto Walter Craig (Mervyn Johns), convidado pelo proprietário, que o chamou para consultar sobre uma reforma.
Craig não conhece nenhuma das pessoas que estão lá mas, estranhamente, diz que já as viu em seus sonhos, e é capaz de prever tudo o que irá acontecer. Mesmo desconfortáveis, os convidados e convidadas tentam aliviar a atmosfera contando histórias (levemente macabras) de coisas que presenciaram. Aí entra cada um dos episódios dirigidos por cada realizador.
De um piloto de corridas num hospital, a uma festa de Natal, passando por um espelho cujo reflexo leva um homem à loucura, cada história lida com o sobrenatural, acrescentando novas camadas aos pesadelos e previsões. Na última, o protagonista é o ventríloquo Maxwell Frere (Michael Redgrave). Seu boneco, Hugo, se interessa em trabalhar com outro sujeito, Sylvester Kee (Hartley Power), e se torna arredio, a ponto de insultar uma mulher. Uma série de incidentes seguem-se, cada vez mais custando a sanidade de Frere.
Como com qualquer antologia, alguns episódios funcionam melhor do que outros, mas nada que seja tão destoante aqui. Psicologismos tentam dar conta dos personagens, e um deles, aliás, o dr. van Straaten (Frederick Valk), é um psicólogo, que faz comentários elucidativos aqui e ali. Mas o horror real está mesmo no inexplicável.