Fernando Henrique Cardoso revisita sua trajetória nesse documentário, que aborda não apenas sua carreira como político, que o fez chegar à Presidência do país, mas também como um importante sociólogo. Por meio de diálogos com figuras como Gilberto Gil, Bill Clinton, Boris Fausto e Manuel Castells, FHC resgata sua história como figura pública.
- Por Alysson Oliveira
- 17/03/2022
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Tendo como tema e figura principal Fernando Henrique Cardoso, O Presidente Improvável é um documentário que talvez esteja mais interessado na figura do professor e pensador do que na do político e presidente – embora, obviamente, esses últimos aspectos também tenham lugar de destaque no filme.
Dirigido por Belisario Franca (Menino 23, Soldados do Araguaia), o documentário é construído pelo dispositivo do diálogo. Na Fundação Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo, FHC recebe as personalidades mais distintas, entre amigos, acadêmicos e outras figuras com quem conversa sobre sua própria história e o Brasil. Dado o objetivo e o teor do documentário, não é surpresa que seja chapa-branca e laudatório, evitando polêmicas da vida do sociólogo e ex-presidente.
“A sociedade se orienta hoje não por associações, mas por ideias”, diz Fernando Henrique ainda no começo, e parte para uma exposição desta fala. São momentos como esse, quando o sociólogo toma a dianteira, deixando para trás a figura pública, que o filme se torna mais interessante. Pode ser novidade para boa parte da juventude – e talvez até para os não tão jovens – mas o biografado é um importante sociólogo brasileiro.
Há também momentos de pura obviedade: “O mundo tecnológico não veio para ir embora, veio para ficar.” Há falas em que o filme parece patinar em puro exibicionismo intelectual, assim como de puro deslumbramento geopolítico – a conversa, em teleconferência, com Bill Clinton é o ponto alto disso. “O Sartre e a Simone jantaram lá em casa”, diz FHC com toda a pompa que o momento parece, para ele, exigir.
Relutante para entrar na política, Fernando Henrique parecia estar bem à vontade, no entanto, quando se encontrou como político. O Presidente Improvável é um filme que exala liberalismo bem-intencionado de intelectual rico.
Tecnicamente muito bem feito, o documentário parece, no entanto, existir num plano idealizado do mundo das ideias e da política. “É duro ser presidente, é tenso, você tem que estar o dia inteiro naquele negócio, carregando uma cruz. E você carrega com prazer, isso é que é o mais triste. [...] Mas não é para qualquer um, é para pessoas que tenham uma visão, capacidade... Não é formação. O Lula não tem formação, mas tem capacidade.” Falas como essa são as que mais ressoam no presente.