Assistindo, ainda criança, ao assassinato de seu pai, o rei Aurvandil, pelo meio-irmão, Fjôlnir, Amleth tem que fugir para salvar a própria vida. Crescendo entre brutos, torna-se um homem violento. E só pensar em vingar a morte do pai e salvar sua mãe, a rainha Gudrun. Para isso, faz-se passar por escravo para aproximar-se da casa do tio.
- Por Neusa Barbosa
- 20/04/2022
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Em seu terceiro filme, Robert Eggers abandona o território cult, assumido em seus dois primeiros longas, A Bruxa e O Farol, para abraçar um orçamento generoso - estimado em US$ 70 millhões -, produzindo um épico viking em O Homem do Norte.
Não que o filme deixe de ter sua marca, começando por uma poderosa assinatura visual, garantida pela continuidade de sua parceria com o diretor de fotografia Jarin Blaschke, como por um sentido de ritmo, aqui construído em torno da saga de seu protagonista, Amleth (vivido com energia por Alexander Skarsgard).
Dito isso, a encrenca da história, roteirizada pelo próprio Eggers e o escritor islandês Sjón, é exatamente isso - o tamanho. A ambição de Eggers é dar conta do dilema essencial de Amleth, cuja história nórdica original, tornada famosa por William Shakespeare em Hamlet, é revisitada aqui. A grande diferença aqui é que ela é despojada dos aspectos mais existenciais e psicológicos enfatizados pelo bardo de Stratford-on-Avon para destacar os sons e a fúria da existência atribulada do príncipe.
Assistindo, ainda criança (aí interpretado por Oscar Novak), ao assassinato do próprio pai, o rei Aurvandil (Ethan Hawke) por seu irmão bastardo, Fjölnir (Claes Bang, de The Square - A Arte da Discórdia), Amleth cresce em fuga, desterrado do que restou de sua família, obcecado pelo desejo de vingança do pai e salvação da mãe, a rainha Gudrun (Nicole Kidman). Nesses anos, ele é incorporado a um bando de saqueadores de aldeias, homens treinados na morte e na violência, bem como na apropriação de bens e também das mulheres - tratadas como objetos neste mundo de machismo tóxico e primitivo.
Protagonista de A Bruxa, Anya Taylor-Joy é uma tentativa de contraponto a isto, encarnando Olga, uma mulher perspicaz e envolvente, que se torna o interesse amoroso de Amleth e o motiva também numa pulsão além da vingança.
Também fiel ao seu estilo, Eggers investe mais na fisicalidade do personagem do que em possíveis conflitos morais - que, apesar de tudo existem. Esse clima é obtido não só pelas infindáveis guerras mas também pela necessidade de Amleth passar-se por escravo para poder aproximar-se de Fjölnir e Gudrun - que se tornou sua mulher e tem um filho dele, Gunnar (Elliott Rose). Como escravo, sob um nome falso, Amleth tem que executar as mais exaustivas tarefas, enquanto lapida o seu ódio.
Da mesma forma que em seus filmes anteriores, Eggers conjuga esse naturalismo físico com a convivência sem fronteiras de seu protagonista com o mundo mítico, mediante conversas com seres como a feiticeira interpretada por Björk, uma dessas criaturas mágicas imprescindíveis a guiar Amleth em sua missão, como a forma de conseguir uma espada especial guardada por um cavaleiro zumbi.
No entanto, ao final, o filme se mostra um tanto frustrante, nesse exaustivo retrato sanguinolento de um mundo macho arcaico que, em vários momentos, lembra Conan, o Bárbaro - e não se sai tão bem na comparação quanto seria de se esperar, o que é decepcionante, dadas as credenciais do diretor.