O barroquismo visual do cineasta australiano Baz Luhrmann (Vem Dançar Comigo, Moulin Rouge) serviu sob medida para a intensidade de Elvis Presley (Austin Butler) nesta cinebiografia seleta, retratando sua ascensão vertiginosa em shows cheios de energia sensual e figurinos vistosos e recuperando na tela um carisma que se tornou lendário. Perfeito no papel, Butler encarna o Rei do Rock com total entrega, fazendo a síntese ideal de um erotismo animal no palco sem perder de vista uma vulnerabilidade emocional mantida sob a superfície mas impossível de controlar o tempo todo.
Uma ótima sacada da história, corroteirizada por Luhrmann, é colocar em evidência as influências da música negra sobre o estilo de Elvis, um garoto branco pobre de Memphis, Tennessee, que cresceu ouvindo músicos afro-americanos, num contexto de segregação racial profunda. Em mais de um momento, essa ligação de Elvis com os negros o colocará inclusive em dificuldades com a lei - seu estilo sexy de dançar era considerado típico dos artistas negros e autoridades tentaram enquadrá-lo por quebrar as leis segregacionistas por isso, sem contar as acusações de obscenidade. Esses detalhes adensam politicamente a figura de um Elvis que os meios midiáticos cristalizaram não raro meramente como uma máquina musical explosiva e sexual, mas não muito mais do que isso.
Outro acerto do filme de Luhrmann é colocar seu foco num eterno conflito de Elvis para seguir seus próprios instintos artísticos contra a persistente influência conservadora de seu empresário manipulador, o coronel Parker (Tom Hanks) - que é o narrador da história, uma figura ambígua e intrigante, cuja própria vida pregressa esteve sempre em questão. Nessa disputa reside o grande drama de um personagem grandioso e trágico, cujas imagens reais são mostradas no final do filme, para deleite de todos aqueles que admiram o grande artista.
