Vernon Subutex, no passado, foi o dono de uma loja de disco que estabelecia tendências e tornava bandas famosas. Com a decadência da mídia física, no entanto, ele perdeu o rumo e hoje, sem dinheiro, perambula do sofá de um amigo a outro. Até que seu melhor amigo, um músico famoso, morre e lhe deixa três fitas com seu testamento.
- Por Alysson Oliveira
- 13/09/2022
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Baseada nos dois primeiros volumes da trilogia homônima da autora francesa Virginie Despentes, a série Vernon Subtext já foi, ingenuamente, chamada de Alta Fidelidade francesa, pois tem, como algo importante, a relação de seu protagonista com a música. Mas tanto a obra de Despentes e sua adaptação são muito mais ácidas e transgressoras do que o livro do inglês Nick Hornby ou suas versões para cinema e streaming.
Dirigida por Cathy Verney, essa série de 9 episódios (cada um com cerca de 30 minutos) é uma ode à música, protagonizada por um Romain Duris em sua melhor forma, como o personagem-título – cujo sobrenome em português se traduz como Buprenorfina, uma substância usada no tratamento contra drogas como a heroína. Esse personagem peculiar foi dono de loja de discos, estabeleceu tendências, deu fama a bandas e artistas mas agora, com a queda das vendas de mídia física, ele está sem dinheiro e sem casa, vivendo de sofá em sofá.
A morte de seu melhor amigo, o músico Alex Bleach (Athaya Mokonzi), abalou ainda mais o seu rumo. Vernon vai em busca de um caminho na vida, parando na casa de pessoas de seu passado, como é o caso do roteirista Xavier Fardin (Philippe Rebbot), a quem, o protagonista confessa, Alex deixara três fitas em forma de testamento. No Festival de Cannes, Fardin, bêbado, falando mais do que deve, e as fitas se tornam objeto de cobiça de um produtor de cinema, Laurent Dopalet (Laurent Lucas), que, no fundo, teme o que o músico pode ter revelado nas gravações.
Tendo Vernon e as fitas como objeto de busca e pretexto para a narrativa andar, a série é povoada com tipos altamente contemporâneos de uma França multiétnica e vibrante. Sem fazer julgamentos morais, a série abraça a loucura de seu protagonista, com um jeito de viver pouco preocupado com os ideais burgueses, e observa como os transgressores dos anos de 1980 se acomodam numa vida de regalias e luxos – como é o caso de Fardin, defensor da extrema-direita.
De certa forma, Vernon Subutex investiga o que as pessoas fazem com seus desejos e utopias com o passar dos anos – tanto na história quanto em suas vidas pessoais. O protagonista parece ser a única pessoa fiel aos seus ideais da juventude. Tudo isso vem embalado por uma trilha sonora preciosa, que inclui clássicos do rock/pop, como Janis Joplin, Karen Dalton, Wreckless Eric, Jesus and Mary Chain, Sonic Youth, Ramones e Spiritualized, entre outros.