12/02/2025
Comédia romântica

Mais que Amigos

Bobby é um bem-sucedido podcaster. Solteiro, 40 anos, nunca quis saber de um relacionamento mais estável. Até que conhece Aaron, um advogado, que tem a mesma disposição de manter relações eventuais com seus casos. Mas os dias passam e os dois começam a questionar essa certeza e encaram as complicações da mudança.

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Ostentando como marketing ser “a primeira comédia romântica com protagonistas gays produzida por Hollywood”, Mais que Amigos, de Nicolas Stoller, embarca na vibe de normalizar histórias de pessoas das mais diversas identidades sexuais, fugindo ao padrão heteronormativo. 
 
Ciente da questão do lugar de fala, Stoller, que não é gay, chamou como corroteirista o ator Billy Eichner, que vive um dos protagonistas, Billy. Quarentão, podcaster de sucesso de língua afiada, ele é bem-sucedido e workaholic. Seu mais recente projeto é abrir o primeiro museu LGBTQIA+ de Nova York, contando com uma diretoria em que estão representados bissexuais, lésbicas, transexuais e não-binários. 
 
Vivendo sua vida de solteiro, Billy se vale de aplicativos de encontros - o que cria algumas das situações mais hilárias do filme - e também clubes. Num deles, conhece Aaron (Luke Macfarlane), um advogado bonitão que, assim como ele, resiste a um envolvimento mais sério. 
 
O filme tenta o difícil equilíbrio entre ser uma comédia romântica de diálogos espertos, à qual não falta uma homenagem às escritas por Nora Ephron (como Harry e Sally - Feitos um para o Outro), e cenas de sexo bastante ousadas, inclusive em grupo. É uma tentativa original e bastante válida, mas nem sempre tudo funciona a contento.
Por exemplo, Bobby é um personagem moldado para ser difícil mas essa sua aspereza eventualmente se torna irritante, em prejuízo do filme. Embora toda comédia romântica que se preza, por princípio, se apóie na oposição entre personalidades e na resistência delas a se perceberem feitas uma para a outra, essa característica de Billy passou um pouco da conta. No papel de um homem oprimido numa profissão que veio a detestar, Aaron se sai melhor, numa nota mais sutil. 
 
Mas o filme acerta muito em criar atmosferas cômicas em torno do cotidiano dos personagens, em situações envolvendo familiares e amigos e também na definição do que entrará ou não no acervo do museu LGBTQIA+ - com direito a uma polêmica envolvendo incluir ou não o presidente Abraham Lincoln, que vários historiadores apontam como tendo sido bissexual. Mesmo sendo uma comédia, Mais que Amigos pretende vibrar uma nota que lembre que, se vivemos tempos em que diversas liberdades vêm sendo conquistadas, nem sempre foi assim, e busca uma discreta homenagem a esses que vieram antes e não puderam viver sua sexualidade plenamente em seu tempo. 
 
Afinal, resulta razoável, ainda que não genial, um filme que não reinventa a roda, apesar de sua chamada de marketing e que erra um pouco ao querer empacotar coisas demais em seu roteiro. Dar um respiro também é importante, ainda mais numa comédia. 
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