Dirigido com um estilo quase cirúrgico pelo veterano diretor alemão Matti Geschonneck, A Conferência revisita a tristemente célebre reunião ocorrida em 20 de janeiro de 1942, na qual ficou decidida a “solução final da questão judaica” na Alemanha nazista.
Apoiado no roteiro de Magnus Vattrodt e Paul Mommertz, o cineasta registra em detalhes a chegada de cerca de quinze líderes de órgãos como as SS, o Partido Nacional-Socialista e membros da burocracia ministerial do Reich a uma bucólica mansão às margens do lago Wannsee. Chama a atenção o comportamento dos convidados que, ao longo da reunião, tomarão conhecimento do assunto a tratar.
Ao longo das conversas, conduzidas por Reinhard Heydrich (Philipp Hochmair), chefe da polícia de segurança e inteligência, e do tenente-coronel Adolf Eichmann (Johannes Allmayer), faz-se o balanço do processo em curso de perseguição aos judeus, que começou com uma pressão pela imigração acelerada e, finalmente, evoluiu para a prisão dos membros da comunidade em campos de concentração cuja superpopulação se torna cada vez mais evidente. É isso que, finalmente, enseja dos líderes da reunião o anúncio de um plano de larga escala para a eliminação física da grande massa daqueles que era tidos como os indesejáveis inimigos do Reich.
Não que não haja discordâncias e dúvidas nas manifestações dos presentes, mas elas se referem mais aos detalhes do que constituem qualquer mínima oposição ao plano em si. Como se fará esse transporte em massa? Que métodos serão utilizados na eliminação, visto que, como chama a atenção o mentor de uma já realizada operação “Estônia livre de judeus”, os tiroteios são por demais exaustivos para os soldados alemães? Como se fará a grande expropriação dos bens das vítimas, forçadas a renunciar a eles em favor do Reich?
As questões, como se vê, são mais técnicas, por assim dizer, do que outra coisa. Todo aquele corpo de dedicados funcionários, civis e militares de diversas formações, agem como se estivessem apenas tomando medidas burocráticas em favor de seu país, normalizando um massacre que se tornaria tragicamente famoso para todo o sempre.
Na construção desta atmosfera e na composição dos diálogos, este filme de fotografia fria, plúmbea, horroriza em marcha lenta a quem o assiste, na medida em que se pode lembrar o resultado dessa reunião, com pelo menos seis milhões de judeus assassinados, fora outros grupos de prisioneiros também mortos nos campos. E, mais do que nunca, se pode lembrar as palavras precisas da pensadora Hannah Arendt sobre a “banalidade do mal”. Porque todos estes homens - havia apenas uma mulher presente, a secretária que tomou as notas da reunião - tinham esposas, pais, filhos, uma aparência de “cidadãos de bem” e de dedicados servidores da pátria. O tempo mostraria que não passavam de criminosos e cúmplices de um dos regimes mais hediondos de todos os tempos.