Irmãos de Honra vem numa embalagem à la Top Gun, com uma mensagem inspiradora: a história do primeiro homem negro a tornar-se um aviador na Marinha Americana, nos anos de 1950. Se por fora o longa de J.D. Dillard traz todo esse peso da responsabilidade da representatividade, por dentro é só mais um filme que elogia os militares dos EUA, sem muita profundidade ou complexidade de personagem.
Jesse Brown é inegavelmente uma figura importante, e o ator Jonathan Majors é competente o bastante para o representar no cinema - pena o filme não estar à altura de ambos. Dillard, filho do segundo aviador negro do esquadrão Blue Angels da marinha, é extremamente respeitoso com a figura cuja história ele está contando, mas isso não acrescenta outras qualidades ao filme.
Ao centro estão Brown e seu melhor amigo, Tom Hudner (Glen Powell), que conheceu na Marinha. Vítima de diversos preconceitos – dos colegas aos atendentes de bar –, o protagonista tenta destacar-se por sua competência e lealdade numa sociedade dominada pelos brancos. Ele comanda um dos aviões mais perigosos, o Vought F4U Corsair, conhecido com “fazedor de viúvas”, dado o seu design que dificulta a navegação.
Quando Brown e Hudner são mandados para a Guerra da Coreia, o filme perde mais o pouco da personalidade que tinha. Dillard segue a cartilha do gênero, sem qualquer criatividade, colocando em cena diversas cenas de aviões no céu alternadas com momentos mais dramáticos, que nada acrescentam, como quando encontram Elizabeth Taylor (Serinda Swan) numa praia em Cannes e ela os convida para uma festa num cassino.
Apesar de tudo isso, Majors é um ator esforçado, que extrai o mínimo de profundidade e carisma do personagem, o que falta em todo o restante do filme. Seja nas cenas com a mulher Daisy (Christina Jackson) ou encarando os xingamentos racistas que recebe, o personagem é repleto de virtudes e brio, as únicas coisas que, talvez, conseguiram ajudá-lo na experiência na Marinha.
Tendo que se esforçar mais do que seus pares brancos – incluindo personagens interpretados por Joe Jonas e Nick Hargrove – ,Brown é, claramente, um exemplo que merece todo respeito e reverência. Mas Irmãos de Honra não precisava ser tão quadrado para representar a vida de um homem que fez uma verdadeira revolução silenciosa.