07/09/2024
Comédia dramática

Tudo sob descontrole

Estressada por seus problemas pessoais, a enfermeira Louise sofre uma crise de pânico e não consegue sair de seu carro. Quando menos espera, seu carro é roubado por Paul, um jovem aflito para atravessar o país e vingar seu irmão. O encontro inusitado leva os dois a viverem muitas situações diferentes.

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O primeiro longa do diretor e roteirista francês Didier Barcelo tem o encanto de uma história de pessoas de carne e osso, em que as surpresas se encaixam naturalmente e sem pretensão a nada mais do que a de viver algumas pequenas aventuras, revelando mais alguns aspectos da natureza humana - ainda que, de saída, a situação pareça muito mais dramática. 
 
Tudo isso o diretor e roteirista consegue com folga em Tudo sob Descontrole, um road movie que tem as paisagens do leste e oeste da França como cenário e dois atores donos de seu jogo conduzindo o elenco: a veterana Marina Foïs, no papel de Louise; e o jovem e premiado Benjamin Voisin, como Paul. Mais do que um encontro, eles protagonizam um choque. Louise, uma enfermeira no limite das suas forças, enfrenta uma crise de pânico que a impede de sair do carro. Por isso, resolve dirigir, dirigir, dirigir, até que a sensação se esgote. Ela está ali dentro quando Paul rouba seu carro, unindo seus destinos por algumas centenas de quilômetros.
 
O roteiro, assinado por Barcelo e Marie Deshaires, não psicologiza demais estes dois seres fora de esquadro, que vão manter um relacionamento acidentado, de altos e baixos, numa viagem que começa nos arredores de Beaunes e tem por destino Cap Ferret.
 
Apesar de sua atitude, Paul não é exatamente um ladrão de carros. Ele precisa do transporte para cumprir uma missão, que inclui também um revólver e uma história familiar complicada. No entrechoque entre estes dois estranhos forçados a uma convivência, a história acumula incidentes que procuram o humor e encontram eventualmente a ternura. Mas sempre há algum tipo de empatia para dar a liga e capturar o interesse do público, até porque não há mocinhos nem bandidos por aqui.
 
A própria diferença de idade entre os dois - Louise tem cerca de 50, Paul, um pouco mais de 20 - serve como gatilho para algumas situações humorísticas, como a da trilha sonora das fitas cassetes presentes no carro, um velho Volvo de 15 anos que pertence ao pai de Louise. A ideia é levar a viagem adiante e a própria Louise, apesar de sua situação de impedimento, não deixa de, de algum modo, deixar-se levar naquilo que acaba se transformando numa aventura, que implica deslocamento não só físico, mas psicológico. 
 
Os encontros na estrada com outros personagens somam climas diferentes, como é o caso da caronista avessa a celulares ligados (Emilie Arthapignet), da comunidade Rom onde eles têm que consertar o carro e um médico (Jean-Charles Clichet) instado a fazer uma espécie de terapia expressa a bordo. De todo modo, o mosaico criado pelo filme é rico de sugestões e também não se nega a algumas homenagens cinematográficas, como a catarse final - que remete a Thelma & Louise numa chave bem diferente. Tudo o que se pode dizer é que ao final da viagem, e do filme, todo mundo pode se sentir um pouco diferente, ou até mais normal.
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