Exibido em diversos festivais, como o É Tudo Verdade, o In-Edit, o Doc Lisboa e outros, o documentário de Daniela Broitman vale-se, como ponto de partida, de uma entrevista do compositor Dorival Caymmi em 1998. O material inédito, até recentemente perdido em arquivos, fornece uma trilha para a elaboração de um perfil intimista do compositor baiano, que morreu em 2008.
Numa conversa íntima e descontraída em sua casa, Caymmi se revela como o que era - delicado, bem-humorado, sensível. E o filme se deixa levar por suas observações, captando esses vestígios para reconstituir a figura do cantor e compositor que foi uma das mais expressivas representações da Bahia - que nele viu refletidos seu mar, seu sol, seu vento, suas criaturas amorosas, sua negritude, que Caymmi tempera com sua proverbial preguiça para dar conta de uma intensa sensualidade dos sentidos.
Não faltam como complementos as esperadas entrevistas com seus filhos, Dori, Danilo e Nana, todos herdeiros desta finíssima tradição musical, e lembrando histórias pessoais dele - que, como marido e pai, era ciumento e um tanto machista, como recorda a filha. Mas falam dele também compositores como Gilberto Gil e Caetano Veloso, outros herdeiros na baianidade musical que fazem homenagem a este seu mestre.
Não há uma preocupação linear nem biográfica no rumo do filme. É um documentário para ser entoado como uma melodia, que primeiro se ouve ao longe, depois se murmura por dentro, depois se vai aprendendo o tom, até finalmente incorporar toda sua letra e música.