Filme infantil raramente vem sem uma lição. Estúdios, roteiristas, diretores e pais e mães parecem pensar que apenas divertir é perda de tempo. A criança precisa, enquanto assiste algo no cinema, aprender algo sobre a vida e o mundo. Geralmente, a moral da história, no fundo, é a mesma: seja você mesmo e tudo vai dar certo. Ruby Marinho – Monstro Adolescente não é diferente.
A personagem-título é uma jovem kraken, um monstro gigantesco e cheio de tentáculos, famoso na mitologia por afundar embarcações. Ruby desconhece essa sua origem, ela sabe que é apenas diferente dos humanos. Com a mãe, o pai e o irmão caçula, ela vive em terra firme, todos passando-se por humanos – quando alguém os acha estranhos, dizem que são do Canadá.
O maior medo da mãe da adolescente é que a menina caia no mar e sua real biologia se manifeste, por isso, impede a filha de qualquer atividade que a aproxime da praia, apesar de morarem numa cidade costeira. A desculpa é de que precisam da umidade do ar. Ruby é, evidentemente, frustrada por não pode participar de atividades na praia com seus amigos. A mais recente disputa entre ela e a mãe é o baile de formatura, que será num barco.
Obviamente, Ruby irá cair, por acidente, no mar, e descobrir quem realmente é. Como é um filme sobre as agruras juvenis, seu processo será não apenas de aceitação, como o de superar a superproteção da mãe, que abandonou o mar para não ser um monstro gigantesco e ter uma família, nas palavras dela, normal. No filme, os krakens não são monstros malignos que atacam navios e afins, mas protetores do mar – apenas as fêmeas se tornam seres gigantes –, conforme a adolescente descobre ao encontrar sua avó, que nunca conheceu, no fundo do oceano, cumprindo sua função de rainha.
O fundo do mar e suas criaturas é uma festa de belas imagens, muito mais bonitas e mais bem resolvidas do que, digamos, o cenário do live-action de A Pequena Sereia. Aliás, aqui, a sereia Chelsea é a vilã – um revisionismo, e, ao mesmo tempo, uma cutucada na Disney, que criou a mitologia de seres graciosos e benevolentes.
Dirigido por Kirk DeMicco, e codirigido por Faryn Pearl, o filme é colorido o bastante para atrair a atenção das crianças, mas talvez o conceito seja bizarro demais para que elas se prendam até o fim. Krakens, ao contrário de outros animais, não servem à forma antropomórfica, são monstros desajeitados, fora o fato de serem pouco conhecidos ou fofinhos, mas, ainda assim, o filme os transforma em seres engraçadinhos, mas não muito além disso.