Março de 1994. Um caso de donos de uma escolinha infantil no Cambuci, em São Paulo, é acusado, junto com sua sócia e o marido dela na época, de pedofilia. A imprensa não demora em noticiar o caso, e a polícia em tomar os acusados como culpados. A série resgata esse episódio em que a imprensa e a justiça falharam dramaticamente.
- Por Alysson Oliveira
- 28/06/2023
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Era uma Semana Santa tranquila, em São Paulo, no final de março de 1994. Sem assuntos para movimentar a imprensa, uma notícia surgia como uma grande manchete. As mães de duas crianças acusavam que seus filhos teriam sofrido abuso sexual por parte dos donos e do motorista da Escola Base, no bairro do Cambuci.
A imprensa logo encontrou um assunto que ajudaria a vender muito jornal e assombrar os noticiários de televisão, numa cobertura controversa, até hoje estudada em faculdades de jornalismo. Em pouco tempo, os supostos criminosos já teriam sido condenados a um linchamento popular – que quase chegou às vias de fato, se não tivessem se escondido para se proteger. A combinação de uma cobertura quase que exclusivamente sensacionalista e um delegado querendo holofotes transformou o caso numa bola de neve. Não muito tempo depois, sob o comando de um novo delegado, a investigação provou que os acusados eram inocentes e os supostos abusos nunca aconteceram.
A série documental O Caso Escola Base resgata esse episódio por vários prismas: a cobertura da imprensa, a investigação policial, além de dar voz às principais vítimas do episódio. Paula Mihin, uma das sócias do estabelecimento, e seu ex-marido, Mauricio Monteiro de Alvarenga, motorista da perua escolar, são duas figuras centrais aqui. Os outros sócios, o casal Icushiro e Maria Aparecida Shimada, já mortos, são representados por seu filho, Ricardo Shimada.
Dirigido por Paulo Henrique Fontenelle, a série de quatro capítulos começa com a cobertura da mídia, trazendo o depoimento de jornalistas que cobriram o caso. Valmir Salaro foi o primeiro a noticiar o caso na TV Globo, quando as mães das crianças nem advogados tinham ainda, e aí tudo ganhou mais exposição.
Da mea culpa de Salaro aos descuidos da imprensa que, muitas vezes, noticiou sem checar os fatos são questões que a série esmiúça evidenciando a devida complexidade da história. São depoimentos ricos que mostram, entre outras coisas, o estado do jornalismo brasileiro, que, parece, não aprendeu muito a partir deste episódios, haja vista as fake news que continuam a se espalhar. Abordando o caso por vários ângulos e construindo numa narrativa de suspense, com a montagem do próprio Fontenelle, o programa é exemplar do bom jornalismo.