19/01/2025
Guerra Drama

Herói de sangue

Bakary Diallo é um pastor no interior do Senegal. Quando estoura a I Guerra, o exército francês convoca jovens de suas colônias. Para proteger seu filho, que foi convocado, Bakary também se alista, e os dois vão juntos para as perigosas trincheiras na Europa.

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A primeira coisa que chama a atenção no drama francês Herói de Sangue é sua fotografia, assinada pelo venezuelano Luis Armando Arteaga, que também fotografou o brasileiro Deserto Particular. Não é, no entanto, algo inesperado, pois o longa é dirigido pelo premiado diretor de fotografia Mathieu Vadepied (Intocáveis). Talvez por isso tamanho cuidado com as imagens do longa que são, realmente, muito bonitas e bem cuidadas.
 
Outro elemento forte é a presença de Omar Sy como protagonista. Mais conhecido por abrir seu grande sorriso na tela e sua simpatia conquistar o público, especialmente em comédias, aqui ele faz um papel mais pesado, Bakary Diallo, um pastor senegalês que se alista de propósito para ir à Primeira Guerra Mundial e tentar proteger o filho que foi convocado. Ele entra como um tirailleur, que é o título original do longa, e se refere a soldados de infantaria colonial supervisionados por franceses.
 
Escrito por Vadepied e Olivier Demangel, o roteiro já se coloca em duas questões que estão imbricadas: colonialismo e guerra, no caso, a Primeira. São temas densos, de que nem sempre o longa consegue dar conta, mas nem por isso deixa de acertar na crítica ao colonialismo e à sua hipocrisia, para dizer o mínimo, de colocar jovens de colônias para defender o país colonizador.
 
Evitando os clichês de filmes de guerra, Herói de Sangue coloca ao centro os soldados africanos que, sem opção, foram obrigados a ir para a guerra. O filho de Diallo, Thierno (Alassane Diong), é um jovem de 17 anos que vive com a família na região rural, onde vivem do pastoreio, até que o exército chega lá convocando os jovens para ir à guerra. Não demora muito, pai e filho estão lado a lado nas trincheiras europeias.
 
Aí está um dos problemas do filme – apesar do realismo forte das trincheiras. É muito improvável que pai e filho estivessem o tempo todo próximos um do outro; soa mais como um artifício narrativo do que qualquer outra coisa. A certa altura, Thierno é nomeado, por seu tenente, como líder do grupo e, estranhamente, seu pai é colocado sob suas ordens.
 
Ao mesmo tempo, Diallo se une com outro colega, Salif (Bamar Kane), para tentar que, em companhia do filho, eles fujam da guerra e voltem para casa. O pai quer abandonar o front, voltar para sua vida pacata no Senegal, mas o filho vê na carreira militar a possibilidade de uma ascensão e uma nova vida na França.
 
É em momentos como esse que Vadepied encontra a força de seu filme. Mais do que um conflito entre pai e filho, esse é um embate entre duas visões de mundo, dois projetos políticos, o de reconquistar a liberdade e o de se equiparar ao colonizador abandonando suas origens. Apesar dos caminhos óbvios que a trama toma no final, Herói de sangue tem muito a dizer não apenas sobre o passado, mas também sobre o presente.
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