20/09/2024
Musical Drama Comédia

Fogo-Fátuo

Em seu leito de morte, em 2069, Alfredo, um rei sem coroa, lembra-se de sua juventude, quando, para livrar seu país dos incêndios, entrou para o corpo de bombeiros como voluntário, mas acabou se apaixonando por um colega.

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A dinâmica dos corpos é a força do novo trabalho do português João Pedro Rodrigues. Não que isso seja novidade em seus filmes, mas no média Fogo-Fátuo, a questão dos personagens centrais serem bombeiros ajuda na exposição dos corpos e, também, não deixa de ser, num fetiche da sexualidade, da fantasia do uniforme. Mas, é claro, o filme é muito mais do que isso.
 
Contado num tom de fábula, o protagonista é um Príncipe, interpretado por Mauro da Costa e chamado Alfredo, um jovem ingênuo, que sempre viveu na proteção do castelo e promete ao pai cuidar de Portugal, especialmente da Mata Nacional do Bussaco, com seus pinheiros reais. Porém, anos depois quando um incêndio assola a região, ele resolve que será um bombeiro para honrar a promessa ao pai.
 
Apesar de o pai sugerir que ele já comece por cima, numa posição de poder, ele diz que pretende fazer a carreira na corporação desde a patente mais baixa. Ele encontra resistência na figura da comandante, interpretada por uma excelente Claudia Jardim. Mas também acha um amigo em Afonso (André Cabral), um belo colega – como todos os outros.
 
Rodrigues, que assina o roteiro com João Rui Guerra da Mata e Paulo Lopes Graça, brinca com leveza no trânsito do desejo e do amadurecimento. Do clichê do bombeiro como fetiche sexual à descoberta real de Alfredo sobre sua sexualidade e seu amadurecimento, o filme é envolto num luz etérea – na fotografia de Rui Poças – que lembra sempre o caráter de fantasia que se embate com o realismo aqui.
 
Isso não é novidade na filmografia do cineasta. O real, muitas vezes, como, por exemplo, em Morrer como um homem, é acessado pelo insólito. O filme se abre e se encerra no ano de 2069 – um século exato depois dos incendiários anos de 1960 – com Alfredo (agora interpretado por Joel Branco) em seu leito de morte.
 
O fogo-fátuo do título remete a algo de mágico, mas também fugaz. No contexto do média, há espaço para os dois, o relacionamento físico entre os dois personagens pode ser rápido e passageiro, mas a marca que deixa neles é mágica e inesquecível.
 
A sessão do filme será acompanhado do curta Fantasma Neon, nas cidades S. Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília e Fortaleza.

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