07/09/2024
Fantasia Drama Comédia

Asteroid city

Um fotógrafo viúvo, seus quatro filhos e seu sogro páram devido a um defeito no carro na cidade de Asteroid City. Mas eles e outras pessoas, como uma atriz, sua filha e outros, terão de deter-se ali indefinidamente depois da aparição súbita de um extraterrestre.

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O diretor norte-americano Wes Anderson compareceu à competição do mais recente Festival de Cannes com mais um produto de sua confecção peculiar em Asteroid City
 
Recheado de astros de Hollywood, o filme de Anderson, como de hábito, é do tipo “ame ou odeie”, reunindo aquela série de excentricidades sofisticadas que dão o tempero de suas histórias. Resumindo, acompanha-se os bastidores da criação de uma peça de teatro, que dá nome ao filme, em que os espectadores do cinema são levados a compartilhar das incertezas e pressões de seu autor, Conrad Earp (Edward Norton). 
 
Ao mesmo tempo, somos lançados no cenário de sua história, ambientada nessa Asteroid City ficcional, em que um fotógrafo viúvo, Augie Steenbeck  (Jason Schwartzmann), seus quatro filhos e seu sogro, Stanley Zak (Tom Hanks), páram devido a um defeito no carro. Mas eles e outras pessoas, como uma atriz, Midge Campbell (Scarlett Johansson), sua filha Dinah (Grace Edwards)e outros, terão de deter-se ali indefinidamente depois da aparição súbita de um extraterrestre - este, um ponto alto dos efeitos e da direção de arte do filme.
 
Pode-se imaginar o impacto desta aparição extraordinária nas conversas e na vida destas pessoas, o que dá o pretexto para que Anderson ironize com muita perícia alguns aspectos da vida norte-americana - como o militarismo (Jeffrey Wright interpreta um general), os meninos prodígios, o culto às celebridades, tudo isso revestido daquela nota sutil com que o diretor impregna seus comentários irônicos e poéticos. Isso implica, é claro, num grande artificialismo, sem o qual os universos andersonianos não podem existir na tela. E essa é a chave das grandes paixões e aversões que o diretor provoca. Seus filmes sempre precisam de uma atenção redobrada às referências, ou seja, precisam de bula. 
 
Tendo em vista isso, a fórmula pode ou não funcionar. Aqui funciona à base de uma meia trava, como se todo o mecanismo que o diretor/co-roteirista (aqui trabalhando com Roman Coppola) encrencasse de tempos em tempos, depois voltasse a andar - como o carro de Augie. Mas, ao final, não terá mesmo sido uma viagem em vão. O humor cínico com que Anderson impregna sua visão da vida familiar, do romance e de todos aqueles que se levam muito a sério sempre tem algo a dizer. 
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