Cláudia Abreu encarna uma mãe desesperada transformada em vingadora no drama policial Tempos de barbárie- ato I: terapia da vingança, do diretor Marcos Bernstein. Partindo de uma questão fortemente enraizada numa trágica realidade brasileira em que 50.000 pessoas são mortas anualmente por armas de fogo - 6.000 delas, por atuação policial -, o filme focaliza o drama da advogada Carla (Cláudia Abreu), que sofre uma tentativa de assalto no Rio de Janeiro, escapando da situação, mas vendo a filha pequena ser baleada.
A espiral de desespero de Carla não encontra consolo no marido médico (César Melo) nem em nada mais no momento em que a filha morre. Cláudia é uma atriz dotada de muitas qualidades e empresta credibilidade à personagem até certo ponto na trama. O problema é que o roteiro desanda em passos vertiginosos a partir de uma virada em direções extremas e cada vez menos verossímeis. Da mesma maneira, a construção da personagem de sua terapeuta, Natália (Julia Lemmertz), desce às raias do absurdo.
Que Carla procure encontrar o criminoso no submundo do Rio de Janeiro por seus próprios meios e, num determinado momento, recorra a um policial corrupto, pode até ser aceitável, ficcionalmente. Mas, a partir de uma determinada situação, sua trajetória nesta sua outra vida se torna cada vez mais absurda, incongruente de modo gritante, tanto em suas atitudes quanto até em sua forma de vestir.
Que o filme focalize a violência e tenha, de certo modo, a ambição de assumir uma forma de resistir à impotência que tantos de nós sentimos diante de sua explosão, pode-se até entender. Mas não se pode aceitar tranquilamente os rumos que o roteiro, assinado por Bernstein, Victor Atherino e Paulo Dimantas, impõe às suas personagens, perdendo-se em excessos e incongruências que põem tudo a perder, transformando-se numa espécie de não tão velado elogio à vingança com as próprias mãos. Atrizes do talento de Cláudia Abreu e Julia Lemmertz mereciam muito mais.