Para Isabel, o emprego dos sonhos era escrever uma telenovela. Quando é contratada pelo veterano Lauro Valente, ela acha que tudo sua vida está dando certo. No entanto, ele rouba sua ideia e reescreve o folhetim com seu próprio nome. Mas tudo se complica mais quando ela é, inexplicavelmente, transportada para dentro do televisivo.
- Por Alysson Oliveira
- 01/08/2023
- Tempo de leitura 3 minutos
A série Novela, como indica o título, fala sobre a forma de narrativa mais popular no Brasil de forma intrigante, fugindo do óbvio. O que, a princípio, parece uma história sobre os bastidores da criação de uma telenovela, logo se torna uma metanarrativa que brinca com os clichês do formato, mas também homenageia com carinho, pois sabe muito bem como esse programa é caro ao brasileiro.
Com coprodução da Porta dos Fundos, criada por Gabriel Esteves (roteirista do Porta dos Fundos) e Valentina Castello Branco, a série tem episódios dirigidos por Renata Pinheiro e Gigi Soares, além de produção criativa de João Falcão. Ou seja, investiu-se bastante em profissionais do cinema brasileiro que colocam, inclusive, uma assinatura autoral na série. Por exemplo, a estética é bem cuidada e criativa como os filmes de Pinheiro.
A história começa com uma aspirante a roteirista Isabel (Monica Iozzi) entregando os primeiros capítulos de sua primeira novela ao diretor artístico de uma grande emissora e ex-novelista de sucesso Lauro Valente (Miguel Falabella). Ele garante que a novela vai arrebentar mas, na hora das filmagens, ela descobre que ele rescreveu tudo, roubou sua ideia da trama e colocou sua assinatura, tirando o nome dela.
O que seria apenas uma rixa entre dois autores – nada que não tenha acontecido no mundo real – ganha uma nova camada quando, misteriosamente, Isabel é sugada para dentro da novela, que se chama Rebote do Destino, e interpreta a protagonista. Ninguém consegue entender o que aconteceu – nem ela, que, no ar, resolve se vingar de Lauro, dizendo que foi roubada.
Porém, nada a tira daquele mundo estranho, onde os atores e atrizes que conhece interpretam as personagens que ela criou, acreditando que são essas pessoas. Novela tem um curioso jogo de metalinguagem falando da produção de um desses programas, conforme Isabel, em sua condição de mocinha do folhetim, tenta voltar ao mundo real, mas nunca consegue.
A trama de Rebote do Destino é um escracho e uma homenagem a diversas novelas, como Vereda Tropical, Mulheres de Areia, O Astro, Guerra dos Sexos (uma das melhores cenas da série), e filmes como A Rosa Púrpura do Cairo e Show de Truman. Na novela, Isabel foi criada pela policial Daphne (Suzy Rêgo), que a encontrou depois de um acidente de carro que matou seus pais. A narrativa começa com ela descobrindo a verdade sobre sua origem, que é neta do milionário Diego Vidal (Herson Capri), e sobrinha de Geraldo (Marcello Antony), irmão gêmeo de seu pai. A vilã é a mulher de Geraldo, Chiara (Yara de Novaes), cujo filho, João Marcelo (Caio Menk), se apaixona por Isabel. A protagonista seria interpretada por Grazy (Mari Bopp), ganhadora de um reality que se tornou atriz e grava todas as cenas, mas se assusta ao ver Isabel no seu lugar na tela.
O jogo de história dentro da história cria elementos de humor e estranhamento na mesma medida, que são resolvidos numa criativa saída visual que as diretoras acharam para diferenciar a “o mundo real” do da ficção. Ao desvendar a fantasia que se transforma em realidade há tantos anos na televisão brasileira, a série nos lembra como essa fábrica de sonhos, mais do que vender uma ideologia, é parte de nossa identidade nacional, mesmo que nem todo mundo as assista.