As órfãs da rainha, como todo filme histórico que se preza, olha para o passado para comentar o presente. No caso, é o silenciamento feminino e também abusos emocionais, em especial. As órfãs do título são três irmãs portuguesas criadas como católicas, e mandadas para o Brasil na época colonial. Leonor (Letícia Persiles), Brites (Rita Batata) e Mécia (Camila Botelho) deverão encontrar maridos aqui.
O filme dirigido por Elza Cataldo acompanha a trajetória dessas jovens em terras brasileiras, uma colônia marcada por uma religiosidade profunda, além das grandes diferenças sociais. O roteiro, assinado pela diretora, Pilar Fazito e Newton Cannito, não faz concessões na história dessas mulheres, mas, com pouco mais de duas horas, se mostra, às vezes excessivo e sem foco.
A direção de arte de Moacyr Gramacho, os figurinos de Sayonara Lopes e Rosângela Nascimento e a fotografia de Fernanda Tanaka são extremamente competentes na reconstituição de época, combinando realismo com algo de onírico, quase romântico, mas sempre saturado da realidade opressiva.
O destino das jovens aqui não é bem como o esperado para elas ou para a rainha. Leonor escreve cartas e mais cartas à rainha, pedindo para voltar, mas nunca recebe uma reposta. Por outro lado, acaba se afeiçoando ao marido, Escobar (Cesar Ferrario), e se interessando pelo judaísmo. Brites se casa com um homem violento (Alexandre Cioletti), mas tenta conquistá-lo. Já Mécia, por sua vez, tem uma deficiência física, o que a torna rejeitada. Por fim, ela se apaixona por um indígena (Mauri Borari).
Quando a vida do trio de irmãs parece estar tomando um rumo, uma verdade vem à tona, com a chegada de um Inquisidor (Celso Frateschi) que as acusa de práticas do judaismo. Mais uma vez, aqui, a reconstituição de época é muito bem feita, tanto no campo da imagem, quanto na narrativa muito verossímil. Talvez uma montagem mais concisa trouxesse um pouco mais de força ao material que, por si próprio, já tem força.