Coisas do amor é uma comédia-romântica alemã bem intencionada, mas um tanto equivocada em seus caminhos. Escrito e dirigido por Anika Decker, o filme é uma espécie de versão feminista do clássico contemporâneo Um Lugar Chamado Notting Hill, invertendo os papéis. O famoso aqui é o personagem masculino, interpretado por Elyas M'Barek.
Marvin (M'Barek) é o maior astro da Alemanha, amado e desejado pelas mulheres, e invejado e admirado pelos homens. Seu status de estrela lhe garante uma boa vida e uma equipe composta por sua empresária (Peri Baumeister), que cuida com mão firme de sua carreira, e um assistente (Denis Moschitto). Seu novo filme se chama "O homem dos seus sonhos". Numa entrevista de divulgação, uma repórter mal-intencionada, Betina (Alexandra Maria Lara), flhe az perguntas capiciosas sobre seu passado, a morte da mãe ainda na infância e a guarda de um pai alcóolatra. Em crise, por reviver esse período de sua infância, Marvin some exatamente na noite da sessão de gala do filme.
Na outra ponta da narrativa está o teatro 3000, um lugar marcado pela diversidade de gênero e apresentações com temática feminista, dirigido Frieda (Lucie Heinze), que tem um show de stand-up em que critica o patriarcado, o machismo e os homens. Ao contrário do que pudesse se imaginar, nada disso ofende Marvin, pelo contrário – ele fica encantado com o potencial do feminismo.
O roteiro de Decker, claramente, quer criticar a hegemonia patriarcal da sociedade e das artes. O teatro de Frieda é um lugar muito mais criativo e interessante do que o filme milionário estrelado por Marvin. Mas a diretora faz essa crítica se valendo de velhos clichês que pouco esclarecem ou ajudam na pauta feminista. Frieda é uma mulher, no fundo, solitária, e que só quer mesmo uma companhia. Depois de passar uma noite com o protagonista, ela começa o cobrar sua presença e fica brava porque ele a abandona.
Enfim, o empoderamento de Frieda é de fachada. No fundo, ela quer mesmo é um padrão de vida que se encaixe ao gosto do patriarcado. Os shows de stand-up do 3000 dão espaço a mulheres cis e trans, a pessoas queers e a toda a diversidade que o filme tenta incluir. É o que há de louvável aqui, mas nem mesmo os personagens centrais, têm muito desenvolvimento. São figuras rasas que veiculam mais ideias da diretora do que sentimentos e complexidade. No fim, acaba sendo um filme sexista, um tiro que sai pela culatra.