07/11/2024

Ao completar 60 anos, a ex-nadadora Diana Nyad tem um estalo e resolve retomar a tentativa de realizar uma proeza em que fracassou aos 28 anos: atravessar em mar aberto a distância entre Cuba e a Flórida. Sem contar com o mesmo apoio e os patrocínios de sua juventude, ela se apóia numa equipe fiel, liderada por sua melhor amiga e treinadora, Bonnie Stoll.

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Embora seja, a rigor, a cinebiografia de uma nadadora - e, portanto, devem esperar-se inúmeras sequências n’água -, o grande trunfo desta estreia na ficção dos documentaristas Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi (vencedores do Oscar da modalidade por Free Solo) é acertar em cheio com a dupla de protagonistas, as atrizes Annette Bening e Jodie Foster, entrosadas e magnéticas em performances admiráveis.
 
Jodie, especialmente, não tem sido presença tão frequente diante das câmeras e resplandece aqui na pele de Bonnie Stoll, melhor amiga e treinadora da célebre nadadora Diana Nyad (Annette Bening), quando esta resolve, com mais de 60 anos, retomar a tentativa de atravessar, no mar aberto, a distância entre Cuba e a Flórida. 
 
Em 1978, Diana tinha 28 anos quando fez sua primeira tentativa, contando com todo o suporte, inclusive uma gaiola protetora contra tubarões, mas que terminou em fracasso. A frustração foi tanta que ela abandonou a carreira, tornando-se comentarista esportiva nas próximas décadas. O sexagésimo aniversário desperta nela um sentido de desafio: afinal, ela vai deixar esvair-se no tédio e na mediocridade os próximos anos de sua maturidade? Ela decide que não e resgata o antigo sonho. 
 
Aproveitando sua experiência como documentaristas, os diretores se utilizam bem das sequências aquáticas, dando conta do esforço descomunal que constitui este desejo de Diana - incluindo, inclusive, imagens dos feitos da personagem real. Entre os desafios, fora a distância de 177 km entre Cuba e a Flórida, estão tubarões, águas-vivas e correntes marítimas rapidamente mutáveis. 
 
O que torna o filme especialmente atraente é como consegue tornar palpável a necessidade de um esforço de equipe para realizar a façanha da nadadora. Fora sua treinadora e incansável assistente, Bonnie, são necessários especialistas no controle de tubarões e águas-vivas e, acima de tudo, um comandante de barco atento às correntes marítimas, que vem a ser John Bartlett (Rhys Ifans). Esse pequeno time vibra junto com as braçadas da nadadora, conquistando pouco a pouco essa distância que parece invencível - afinal, ninguém conseguiu realizou a proeza antes. Para tornar tudo mais difícil, não bastará uma única tentativa para lograr o feito.
 
Por mais que o roteiro, assinado por Julia Cox a partir de livro autobiográfico de Diana Nyad, incorpore elementos de fórmula melodramática, ao mesmo tempo o filme escapa disso pelo empenho e a química de suas protagonistas. Em cada cena, em cada diálogo, em cada disputa, palpita a humanidade desta dupla de mulheres, que representam um tipo de amizade e de amor que não tem como não despertar empatia, por mais que, eventualmente, a obsessão de Diana por sua conquista pareça egoísta e um tanto insana. 
 
Não é muito simples, porém, entrar na cabeça da nadadora quando ela entra na água - o que o filme tenta retratar, recorrendo a imagens de um passado que inclui memórias de um pai carinhoso mas finalmente ausente (Johnny Solo) e um traumático abuso sexual pelo treinador Jack Nelson (Eric T. Muller), além de uma coleção de músicas e fantasias visuais, servindo como distração para o esforço físico devastador. Ao final dele, restam músculos exauridos, dores, ferimentos, inchaços, uma quase morte - mas uma empolgação pela vitória que não é difícil de entender. 
 
Não seria nem um pouco estranho também que as duas veteranas atrizes conquistassem aqui indicações ao Oscar - que seria a quinta de Annette, ainda sem vitória, e poderia dar a terceira estatueta a Jodie, já vitoriosa com Acusados e O Silêncio dos Inocentes.
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