Coprodução entre Chile e Brasil, Nauel e o Livro Mágico tem como inspiração mitologias marítimas chilenas. Por isso, alguns elementos se perdem para o público estrangeiro, mas isso não impede de enxergar a beleza, especialmente visual, do filme de Germán Acuña. O jovem protagonista embarca numa jornada quando seu pai, um pescador, é sequestrado por um feiticeiro, após o naufrágio de sua embarcação.
Nauel vive na Ilha Chiloé e tem medo do mar, mas, mesmo assim, ajuda o seu pai no trabalho como pescador. O filme começa apresentando o local onde vivem, com suas belezas naturais, muito bem aproveitadas na tela com riqueza de detalhes e colorido vibrante. A combinação entre a cultura huilliche e o catolicismo da herança colonial dão o tom ao roteiro, assinado pelo diretor e Juan Pablo Sepúlveda.
Muito mais próximo, temática e esteticamente, do Studio Ghibli do que das animações norte-americanas, o filme tem uma preocupação narrativa nunca ficar na superficialidade, trazer questões complexas de forma acessível ao público infantil, lidando com temas como conscientização ambiental e herança cultural.
O livro mágico que Nauel encontrou é o que desperta a ira do feiticeiro, que sequestra o pai do menino tentando conseguir o objeto. A jornada do jovem protagonista não é apenas para salvar seu pai, mas também no sentido de sua autodescoberta e superação de seus medos.
Trazer a magia para o universo latino, especialmente se direcionando a um público infantil, é a maior qualidade do longa. Crianças que veem o universo fantástico com base nas tradições anglo-saxãs poderão estranhar ver seu próprio quintal na tela, mas é fundamental que isso aconteça para o despertar de uma nova consciência.