08/09/2024
Comédia Romance

A natureza do amor

Sophie é uma professora de filosofia de classe média e culta. Quando ela reforma a casa de campo, acaba se envolvendo com o construtor, que é um homem sem qualquer sofisticação. Devido a esses modos dele, ela começa a pensar se apenas o desejo carnal é suficiente para manter um relacionamento.

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Não deixa de ser irônico o título A Natureza do Amor, uma vez que o filme mostra exatamente o contrário: há pouco de natural numa relação amorosa que, na verdade, é mais uma construção social. Escrito e dirigido pela canadense Monia Chokri, que faz um pequeno papel também, o longa constrói uma meditação sobre como as diferenças sociais têm um peso determinante nos relacionamentos amorosos. O filme venceu o César de Melhor Longa Estrangeiro. 

Sophia (Magalie Lépine Blondeau) é um professora de filosofia de classe média alta e culta, assim como seu marido, Xavier (Francis-William Rhéaume), e seus amigos, que são mostrados num jantar logo na primeira cena. Todos levam uma vida burguesa, progressista e relativamente média e medíocre. Sophia e seu marido até zombam disso, mas o casamento deles também não é muito animado. 

Tudo muda quando eles precisam reformar a casa de campo que compraram há pouco. Entra em cena o construtor Sylvain (Pierre-Yves Cardinal), um homem repleto de virilidade e com a, digamos, pegada que Xavier já não tem mais. A química entre ele e Sophia é imediata. Logo estão se atracando no chão, no sofá, na cama, onde mais puderem. Sophia não pensa muito no marido, embora, eventualmente, tenha alguma crise de consciência.

Blondeau mostra com destreza seu timing cômico na construção dessa mulher que redescobre o prazer de viver, e leva para as aulas de filosofia meditações sobre os vários tipos de amor, do platônico ao romântico. Sua vida vira de pernas pro ar com a chegada desse novo homem, e a atriz encontra em Cardinal o parceiro de cena perfeito. Ele é engraçado com seu jeito despachado de ser, seus erros na forma de falar e sua brutalidade sedutora. Juntos, eles exalam o carisma e o timing cômico que as personagens e o filme pedem. 

Há um elenco de figuras facilmente reconhecíveis, como o marido passivo-agressivo e o artista que vive às custas da mãe – esse é o irmão de Sophia, Olivier, interpretado também com excelente timing cômico por Guillaume Laurin. Além da própria Chokri, que atua como uma mãe que sofre abusos emocionais das filhas pequenas que a odeiam. 

Tudo isso funciona excelentemente como comédia, mas é na questão social que A Natureza do Amor revela o seu diferencial. Depois de separar-se do companheiro, Sophia decide que deve assumir o relacionamento com Sylvain e apresentá-lo à família e amigos. Mas ele é o contrário de tudo o que ela e eles esperam: é socialmente desajeitado, veste-se mal, não conhece vinhos e fala errado. O amor e o desejo físico são suficientes para segurar uma relação?, pergunta o filme, que também dá uma resposta bastante coerente. 

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