07/02/2025
Drama

Vermelho Monet

Anos atrás, o pintor Johannes Van Almeida deixa de lado seu talento para dedicar-se a um lucrativo negócio de falsificação de quadros famosos, apoiado por uma marchande internacional, Antoinette. Hoje vivendo recluso, ele é atingido por uma nova trama. Nos cinemas.

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Deixando de lado suas comédias rasgadas, como Cine Holliúdy 1 e 2, o diretor cearense Halder Gomes apresentou um lado mais sério e sofisticado no longa Vermelho Monet.

O próprio Halder definiu seu filme como um “drama autoral”, até porque dramas não são estranhos na carreira do cineasta, roteirista e produtor - caso de As mães de Chico Xavier (2011), codirigido por Glauber Filho. 

No filme, estrelado por Chico Díaz, Maria Fernanda Cândido e a promissora estreante Samantha Müller, percorre-se uma trama nos bastidores do mercado de arte, envolvendo a falsificação de obras e a feitura de um quadro excepcional. 

Chico Díaz interpreta um pintor, Johannes Van Almeida, que, anos atrás, fez parte de um bem-sucedido esquema de falsificações de quadros supostamente antigos, associado com uma poderosa marchand com conexões internacionais, Antoinette (Maria Fernanda Cândido). Depois, ele enfrentou a prisão e hoje vive recluso, em decadência e crise pessoal. Duas outras mulheres entram neste circuito: Adele (Gracinda Nave), a esposa de Johannes, hoje sofrendo de Alzheimer, e a jovem atriz Florence (Samantha Müller), que se torna objeto de desejo de Antoinette e está no centro de um plano para torná-la musa de uma nova obra do pintor.

Apoiando-se na direção de arte cuidadosa de Juliana Ribeiro e na trilha sonora de Herlon Robson, Vermelho Monet constrói-se a partir de uma série de referências canônicas, tanto nas artes plásticas, quanto na música, numa construção sonora que mistura música clássica, de Erik Satie e Piotr Tchaikovsky a Heitor Villa-Lobos, e também populares, de Kleiton e Kledir a Donna Summer. No meio desse contexto, encaixa-se uma narrativa dramática que testa os limites das relações turbulentas entre os personagens, num melodrama que investe numa linguagem mais rebuscada e ganha um tom lusófono ao apoiar-se, em parte, em textos da poetisa portuguesa Florbela Espanca - que é personagem interpretada por Florence dentro de um filme que ela está ensaiando.

O projeto levou 10 anos para ser finalizado e reflete o intenso interesse do diretor pela pintura. O roteiro, que ele assina com colaboração de Michelline Helena, partiu da ideia de contar a história de um quadro e como ele pode ganhar vida. Nesse processo, ficou claro que o filme teria que ser produzido fora do Brasil, para ficar mais perto de todas as referências, e acabou sendo filmado em Lisboa - o que também permitiu uma redução de custos, por particularidades do modo de produção em Portugal.

Por todas essas características, o filme, evidentemente, não tem o apelo popular de outros trabalhos de Halder - cuja vocação para a comédia parece confirmar-se com este exemplar dramático, que não alcança o mesmo ritmo delas e perde-se um tanto num conceito um tanto fragmentado e confuso, apesar de contar com valores de produção e um elenco empenhado.

 

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