20/05/2025
Documentário

A flor do buriti

Sobreviventes de várias tragédias, os Krahô resistem na manutenção de sua cultura e costumes, no cerrado do Centro-Oeste. Nos cinemas.

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Na seção Un Certain Regard, a dupla de diretores João Salaviza e Renée Nader Messora conquistou um prêmio para o elenco desta produção, que retrata os indígenas Krahô, do norte de Tocantins, com seu total envolvimento na produção, roteiro e atuação. O prêmio ganhou ainda mais significado como instrumento de luta pelos direitos dos povos indígenas no Brasil, ainda ameaçados pelo marco temporal - o que foi objeto de um protesto, com faixas no tapete vermelho, na apresentação do filme no Festival de Cannes, em maio.

É a segunda vez que os diretores retratam o universo do povo Krahô - que eles haviam já abordado em filme anterior, premiado há 4 anos nesta mesma seção em Cannes, Chuva é Cantoria na Terra dos Mortos.

Com o total engajamento da comunidade Krahô, os diretores retratam um cotidiano que incorpora as tarefas diárias, os rituais e o convívio com a natureza num céu coalhado de estrelas - no cerrado do Centro-Oeste - e também a reconstituição de um massacre ocorrido há décadas, mas cujas marcas ainda se fazem sentir. Esse relacionamento conflituoso com os “cupe” (os brancos), particularmente com um certo agronegócio predatório, que invade terras indígenas com seu gado e pistoleiros, injeta uma dor permanente, mas também uma energia de mobilização sempre renovada.

Prova disso é uma grande movimentação de diversos povos indígenas, acampados em Brasília e participando de manifestações, ainda durante o governo Bolsonaro, em que a futura ministra Sonia Guajajara teve uma participação destacada.

Ao final das duas horas de projeção em Cannes, além dos aplausos, a sala Debussy testemunhou os indígenas Krahô presentes entoando seus cantos tradicionais e tocando maracas, elevando ao máximo o nível da emoção do público, como se tivesse sido transportado para dentro do universo desse povo em resistência.

 

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