À medida que avança a trama em torno da busca da jovem Olivia (Sydney Chandler), mais camadas se acumulam no caminho de Sugar (Colin Farrell), com pitadas de violência que desnudam o coração doentio da América.
O fato de que Farrell seja um legítimo irlandês na vida real somente adiciona tempero à sua interpretação aqui, em que ele esbanja elegância num papel em que tem que dosar não somente um instinto verdadeiramente matador - que a série mostrará em alguns episódios - como um refinamento que inclui roupas, carro (o lindo Corvette vintage), o domínio de línguas e também uma sensualidade contida, mas nunca desatenta - que o diga Melanie (Amy Ryan), vivendo uma das personagens mais ambíguas da história. Tarefa simples para a grande atriz que ela é.
Ao mesmo tempo em que expõe as vísceras putrefatas do clã Siegel - que seja cinematográfico é uma ironia saborosa -, em que pontuam vícios e viciados diversos, a série permite-se explorar uma nuance sci-fi que alguns talvez não apreciem, mas certamente acrescenta um ingrediente original e inusitado em se tratando de uma história policial, recheada de citações noir em seus muitos trechos de filmes clássicos, inseridos como comentários e pistas ao longo do caminho.
Importante é que, nem por esse aspecto fantástico, a série deixa de lado a essência do gênero policial. Ou seja, a fartura de personagens ambíguos e perigosos, as reviravoltas, o suspense nas situações em que legitimamente se acredita que tudo pode dar muito errado. Está tudo lá e com finesse, inteligência e sagacidade. A vertente sci-fi, aliás, abre portas a uma continuação numa nova temporada que, ao que tudo indica, deve acontecer. Que venha logo.
