12/02/2025
Drama

Caminhos cruzados

Professora aposentada, Lia decide procurar pela sobrinha Tekla, há vários anos expulsa da família por ser uma pessoa trans. Contando com uma única pista em Istambul, ela parte da Geórgia para lá, levando consigo o jovem Achi, que alega ter o endereço de Tekla.

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Filme de abertura da seção Panorama do Festival de Berlim e vencedor do prêmio Teddy (para temática LGBTQIA+), Caminhos Cruzados confirma o talento do diretor sueco Levan Akin. Trata-se do terceiro longa deste cineasta, conhecido especialmente pelo segundo, E Então Nós Dançamos (2019), e em que ele, mais uma vez, explora suas raízes georgianas num roteiro assinado por ele.

Como adianta o título, o filme é iluminado pelos trajetos incertos de seus personagens, que convergem para Istambul, encontrando em suas ruas tortuosas e cheias de vida o ambiente para suas explorações e descobertas existenciais. 

O enredo começa numa pequena cidade da Geórgia a partir de Lia (Mzia Arabuli), professora aposentada que decide partir à procura de Tekla, uma sobrinha há muito desaparecida, excluída da família por ser uma pessoa trans. Na pista dela, Lia vai unir-se ao jovem Achi (Lucas Kankava), que conheceu Tekla e alega ter seu endereço na Turquia - e que convence Lia a levá-lo consigo, porque deseja reencontrar a mãe naquele país.

É uma dupla improvável e não exatamente por um mero conflito de gerações. Tudo que em Lia é centrado e firme, em Achi é difuso e perdido. É visível que ele cresceu ao deus-dará e procura uma identidade, um lugar no mundo. Enquanto isso, Lia tem uma missão movida pelo arrependimento.

Em Istambul, a procura de Tekla move-se pelos prédios obscuros da zona de prostituição em que se refugia uma comunidade trans marginalizada, por isso visivelmente defensiva diante de estranhos que sequer falam a mesma língua. Entre os dois lados, surge a mediação de Evrim (Deniz Dumanli), uma ex-profissional do sexo que estudou Direito e se tornou defensora de vários excluídos da cidade trabalhando para uma ONG.

Contando com a mesma diretora de fotografia de seu filme anterior, Lisabi Fridell,

Akin compõe a trajetória deste trio muitas vezes em sequências sem diálogos, em que eles interagem uns com os outros somente pelo olhar e também andam por uma cidade que parece corresponder às suas incertezas com uma vitalidade eventualmente dura, mas com brechas generosas. 

A busca por Tekla se enreda nas outras buscas de cada um - Lia, pelos restos de sua perdida juventude, magnificamente evocada numa sequência em que ela dança; Achi, por uma mãe perdida e um emprego difícil; Evrim, por um amor que não tenha vergonha de andar com ela à luz do dia. Nenhuma delas uma procura simples, apesar de comum, e que nunca é banalizada na condução da história, que leva genuinamente a empatizar com as pessoas que inclui em seu caminho. 

Istambul, com suas ruas fervilhantes de gente e de gatos, o mar e os barcos determinando seus rumos e sua plasticidade é, inegavelmente, a quarta personagem do filme, proporcionando o cenário de seus afetos difíceis com uma beleza sem enfeites.

 

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