07/11/2024
Comédia Terror Drama

A substância

Elisabeth Sparkle é a rainha dos programas de boa forma na TV há muitos anos. Porém, seu chefe começou a achar que é hora de substituí-la por alguém mais jovem e a demite. Obcecada por retomar seu posto, ela recorre a um misterioso pacote de substâncias que promete um rejuvenescimento milagroso. Mas ela não contava com efeitos colaterais tão inesperados. Na Mubi.

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Vencedor do prêmio de roteiro e um dos filmes mais discutidos no Festival de Cannes 2024, o sangrento A Substância, da diretora francesa Coralie Fargeat (de Vingança, 2018), compõe um relato que debate um dos mitos mais celebrados da época moderna: a busca obsessiva da eterna beleza e juventude para as mulheres. 

O maior acerto do filme é escalar Demi Moore como sua protagonista. Ninguém melhor do que a bela e veterana atriz para encarnar o calvário de sua protagonista, Elisabeth Sparkle, uma ex-estrela de um programa televisivo de boa forma que cai em desgraça por ter entrado na meia-idade. Apesar do físico ultra-torneado e da aparência impecável, ela é afastada do programa e adere a um misterioso tratamento que promete restituir-lhe a juventude.

O pacote de substâncias que ela encomenda implica, na verdade, numa transformação bem mais radical do que Elisabeth imagina. Isso acarreta o aparecimento de um duplo da estrela, Sue (interpretada por Margaret Qualley), e uma série de consequências cada vez mais sinistras.

Num filme excessivamente longo, apesar de bem-produzido em termos de prostética e efeitos, a diretora se compraz em cenas de um gore explícito e absoluto, que não raro ultrapassa o limite de tolerância de alguns espectadores - foi esse o meu caso. Leituras do filme o definiram como um “horror feminista”, mas não vejo esse tom tão bem-estabelecido assim. Há, certamente, uma crítica à ditadura da boa forma e da virtual proibição do envelhecimento para as mulheres, mas o roteiro não tem substância, perdão pelo trocadilho, para sustentar uma crítica consistente desses preconceitos. 

É assumidamente um filme de gênero, carregado de referências, passando por Alfred Hitchcock, Brian de Palma e Stanley Kubrick, levando a crer que a diretora quer ser levada muito a sério. Até conseguiu, já que o filme levou em Cannes o prêmio de roteiro, que é visivelmente seu aspecto mais irregular - sobretudo na porção final, que parece procurar o excesso e o nojo.

Ponto mesmo só para Demi Moore, heroína romântica e sexy dos anos 1990 com sucessos como Ghost - Do Outro Lado da Vida e Proposta Indecente, que mostra coragem numa reinvenção da própria imagem ao encarar este filme, o primeiro de terror de sua longa carreira, tornando-a cotada para premiações como melhor atriz desde Cannes. Que não seja esta sua última tentativa. 

 

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