Nascido Sebastião Bernardes de Souza Prata, Grande Otelo foi um dos grandes nomes da cultura brasileira do século XX, não apenas como ator, humorista, cantor, mas tudo o que representa até hoje nas artes e na luta contra o racismo. Começou a trabalhar, ainda criança, num circo em Uberlândia, onde morava, e depois conseguiu uma autorização de sua mãe para ir para São Paulo, com uma companhia de teatro.
A trajetória é marcada por momentos ímpares, como o teatro de revista Pacificação, a Companhia Negra de Operetas e Revistas, da qual participavam apenas artistas negros, a participação no inacabado It’s all true, de Orson Welles , a interpretação do personagem-título no filme Macunaíma, novelas como Uma rosa com amor, ou a atuação em Fitzcarraldo, de Werner Herzog, rodado no Brasil.
O documentário Othelo, O Grande é uma jornada por essa carreira que durou mais de 60 anos. Dirigido por Lucas H. Rossi dos Santos, o filme parte de uma entrevista dele, e narra em primeira pessoa a jornada profissional e a vida marcada por tragédias, como a morte do pai, quando o artista ainda era pequeno, e o alcoolismo da mãe.
A narrativa segue uma ordem cronológica, com alguns desvios temporais que permitam conexões entre o passado e nosso presente. Com rica pesquisa de arquivo, o longa ilustra as falas de Otelo com cenas de filmes, teatros e outros projetos com que ele se envolveu.
Resgatar a vida e obra dele é, de certa forma, revisitar a trajetória do artista negro no Brasil, marcada por figuras como Otelo, Ruth de Souza, Abdias do Nascimento, Lea Garcia, Milton Goncalves, Zezé Motta, entre outros e outras. Ao dar vez a Otelo, cujo depoimento costura o filme, Rossi permite que uma voz negra sistematicamente silenciada seja ouvida.
Marcado pelo bom humor de Otelo, o documentário transita entre um registro leve, da comédia do artista, a um tom mais sério de como ele sobreviveu às perdas e tragédias e de como se tornou um dos nomes fundamentais da cultura nacional ao mesmo tempo que exalta a sua negritude.