21/05/2025
Drama

Pasárgada

Irene é uma ornitóloga em busca de pássaros raros que se isola numa região repleta de árvores. Longe da família e dos amigos, ela busca uma nova conexão com a natureza.

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Dira Paes é uma das melhores atrizes de sua geração. E uma das mais queridas. Ela não tem medo de correr riscos. Fez desde os filmes incendiários de Claudio Assis (Amarelo Manga, Baixio das Bestas), à distopia religiosa de Gabriel Mascaro (Divino Amor), até a destrambelhada Solineusa, da sitcom A Diarista, que lhe deu uma fama além da bolha cinéfila, ou a Norminha, da novela Caminho das Índias. Dirigir um filme é um passo praticamente natural – talvez um sonho.

Pasárgada, primeiro longa escrito e dirigido por Dira, também é protagonizado por ela, que interpreta Irene, uma ornitóloga que se isola da família e dos amigos. Embrenhada numa floresta, ela procura aves raras. Ela contaria com a ajuda de um homem idoso que conhece as trilhas naquele lugar, mas, impossibilitado, ele indica Manuel (Humberto Carrão), para o substituir. 

O filme se constrói então da observação de Irene observando pássaros. Há uma temporalidade muito interessante quando ela está na floresta, quase uma negação do tempo urbano ditado pelo capitalismo. Ela reencontra uma espécie de ancestralidade feminina na solidão, na possibilidade de se redescobrir. Irene é uma personagem misteriosa. Pouco sabemos sobre ela, e as informações que nos chegam são pelos outros: um estrangeiro (Peter Ketnath) com quem conversa pela internet, ou sua irmã (Cassia Kis), com quem faz uma chamada de vídeo em seu aniversário. 

O longa segue até que bem até seu terço final, quando uma reviravolta o tira do prumo. Esse momento é apressado, e tudo o que vem depois parece corrido. A solução ocorre da maneira mais anticlimática possível: um formulário pela internet. O filme facilita demais ao não tentar caminhos mais complexos. É curioso como o roteiro aponta caminhos que não consegue explorar, como a relação entre Irene e Manuel. Ele, aliás, é o praticamente o rascunho de um personagem. Falta-lhe densidade e alma – e a culpa nem é de Carrão. 

Passando por mais algumas reescritas, sendo mais lapidado, o roteiro de Pasárgada poderia render um bom filme, mas esse alicerce do longa parece que não estava pronto ainda, merecia mais trabalho, mais esforço. E, assim, tudo que vem por cima dele parece à beira de desmoronar. 

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