Não é fácil imaginar outra atriz que não Jeanne Balibar como a protagonista de Deixe-me (está bem, Isabelle Huppert é uma opção, mas ela sempre é uma opção). Balibar interpreta Claudine, uma suíça madura que trabalha como costureira e, às terças-feiras, viaja a um hotel na região dos Alpes, onde procura homens solitários com quem satisfaz seus desejos sexuais. A regra é essa, apenas uma tarde, e sempre com um homem diferente.
Maxime Rappaz, roteirista e diretor do filme, lança um olhar sem preconceitos ou julgamentos morais a essa mulher. Ele a constrói sem amarras, e encontra em Balibar uma atriz que mais do que interpreta, habita Claudine em seu comportamento libertário, embora marcado por certa culpa por, durante essas saídas, deixar com a vizinha seu filho, o jovem adulto Baptiste (Pierre-Antoine Dubey), que tem limitações de movimentos e mentais.
Claudine encontra nessas saídas um pouco de afeto anônimo e a possibilidade de se afastar do estresse emocional e físico da vida cotidiana. Seu esquema funciona muito bem,, até que um homem, Michaël (Thomas Sarbacher), resolve prolongar sua estadia, envolvendo-se emocionalmente com ela - e o sentimento pode ser recíproco.
Se Claudine começa como um mistério para nós, aos poucos ela se revela em sua plenitude. Como estudo de personagem, o filme é guiado por Balibar e sua presença marcante, que transita entre uma femme quase fatale, glamorosa e segura, enquanto do outro lado está a mãe amorosa e forte ao lado do filho que depende tanto dela.
Feito de seus silêncios e de belas paisagens, Deixe-me aponta um jovem diretor a se prestar atenção. Em seu segundo longa, Rappaz demonstra segurança com uma câmera certeira e uma condução apurada.