Numa era do pós-Corra!, qualquer terror quer fazer um comentário social incisivo. Não que isso seja novidade no gênero, no qual os melhores filmes são em si um comentário social. Mas há uma nova espécie de subgênero espertinho que pretende trazer à tona questões que não eram nem discutidas há pouco tempo, como esse Acompanhante Perfeita, que pretende falar sobre relacionamentos tóxicos.
O estreante Drew Hancock coloca o filme na perspectiva de Iris (Sophie Thatcher), namorada de Josh (Jack Quaid, filho de Meg Ryan e Dennis Quaid), que parece ser um sujeito legal, e esse é outro tema do longa: a discrepância entre a aparência e a essência. Ele pode representar um cara legal, um namorado atencioso, um bom amigo, mas, no fundo, é arrogante e mesquinho.
Iris, por sua vez, logo na primeira cena diz que os dias mais felizes de sua vida foram quando conheceu Josh, e quando o matou (!). Logo de cara, ela nos é apresentada como perigosa, mas será mesmo? Isso se saberá num final de semana na mansão de um russo, Sergey (Rupert Friend), num local isolado.
Logo, no entanto, a reviravolta do filme vem à tona. Hancock segura por um tempo, até que a trama deslancha quando um crime acontece, e é revelado que um dos hóspedes é um robô designado para atender aos desejos e fantasias de seu proprietário, e tudo é controlado por um app no celular.
A partir disso, é uma reviravolta atrás de outra, o que torna o filme cansativo e improvável. É como se Hancock estivesse sempre um passo à frente do público exibindo sua sagacidade (muitas vezes previsível) e humor, que nem sempre funciona. O filme opta mais pela comédia do que pelo suspense, mas nem sempre funciona, pois os diálogos não são afiados e as situações carecem de humor.
Sem uma potência dramática ou de ficção científica, Acompanhante Perfeita é um filme que se tem numa conta muito mais alta do que realmente é. A reta final é apressada e, dentro de sua lógica, nem tudo faz sentido. Fora os momentos que Hancock parece ter tirado da cartola só para ter uma “explicação” pouco convincente.