De 2 a 12 de fevereiro, a Cinemateca Brasileira sedia três mostras gratuitas na sala Grande Otelo, destacando a obra do norte-americano David Lynch, trabalhos de duplas de diretores e também documentários e filme infantil. Confira os detalhes abaixo:
RETROSPECTIVA DAVID LYNCH
A Cinemateca Brasileira realiza uma retrospectiva dedicada à obra do cineasta americano David Lynch, com 8 dos seus 10 longas-metragens, além de exibir na íntegra a primeira temporada de sua consagrada série de televisão Twin Peaks (1990), da qual dirigiu dois episódios.
Apesar de nascer em um subúrbio de Montana, é a cidade de Filadélfia, na Pensilvânia, que Lynch credita ser sua maior inspiração. Ao se mudar para lá para cursar faculdade de artes visuais, em meados dos anos 1960, o cineasta conheceu uma urbe decadente e violenta, que despertava um constante estado de medo e tensão. Sugestões dessa experiência estão presentes em seu longa-metragem de estreia, Eraserhead (1977), em que o protagonista precisa lidar com seu bebê-monstro em uma cidade industrial escura, permeada por sons e imagens sinistros. Mas as primeiras experimentações com o cinema vieram anos antes, ainda na década de 60, com a produção de diversos curtas-metragens.
O interesse pela vida pacata no subúrbio (às vezes nem tão pacata assim), sequências oníricas, narrativas fragmentadas e um desenho de som minucioso são características de seus filmes.
Nos anos seguintes, Lynch buscou se assentar em Hollywood com filmes menos experimentais, embora ainda audaciosos: como O homem elefante (1980) e Veludo azul (1986), recebeu indicações ao Oscar de Melhor Diretor, tornando-se um nome de peso. Com Coração Selvagem (1990), recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Em História Real (1999), roteirizado por sua ex-esposa e colaboradora de longa data, adota um estilo tão convencional de direção que, por isso mesmo, considera ser a experiência mais experimental que já teve em um set de filmagens.
Outros longas que compõem a mostra e que retomam seu estilo mais experimental são Estrada perdida (1997), Cidade dos sonhos (2001) — projeto de série de TV que não vingou e acabou se tornando talvez o mais aclamado longa-metragem do diretor —, e Império dos sonhos (2006), sua primeira incursão no vídeo. Os dois últimos retratam uma Los Angeles implacável, que aflige suas sofridas protagonistas, atrizes interpretadas por Naomi Watts e Laura Dern, respectivamente, em performances inesquecíveis. As duas, aliás, são constantes colaboradoras de Lynch, assim como outros nomes como Kyle MacLachlan, Jack Nance e Harry Dean Stanton, além do compositor Angelo Badalamenti, que faleceu em dezembro de 2022 e cujas trilhas musicais marcaram a filmografia do cineasta.
MOSTRA DUPLA DIREÇÃO
Em termos numéricos, o casal Danièle Huillet e Jean-Marie Straub é a dupla mais prolífica, tendo realizado mais de 25 filmes entre 1963 e 2006, transitando entre França, Alemanha e Itália. São,sobretudo, releituras de diversas fontes: óperas, peças, poemas, manifestos, sempre empregando um teor brechtiano, intelectual e político. No caso de Gente da Sicília (1999), baseado do romance Conversas na Sicília, de Elio Vittorini, fica claro o estilo dos cineastas de potencializar o texto, que é praticamente declamado pelos atores não profissionais do filme, além da importância dos silêncios.
Três duplas de irmãos compõem a mostra: os americanos Albert Hughes e Allen Hughes, com Perigo para a sociedade (1993), que emprega um realismo brutal para retratar a criminalidade e as dificuldades enfrentadas pelos jovens negros oriundos de bairros marginalizados nos Estados Unidos; os belgas Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne com O filho (2002), também expoentes de um realismo duro, numa história sobre traumas do passado; e os americanos Joel Coen e Ethan Coen, com O Grande Lebowski (1998), exemplo perfeito do estilo tragicômico da dupla, com histórias cheias de camadas e personagens excêntricos.
Do Brasil, a mostra apresenta o longa-metragem de estreia de Juliana Rojas e Marco Dutra, Trabalhar cansa (2011), dupla que solidificou tanto em seus trabalhos conjuntos quanto solo um cinema fantástico e de gênero, Tinta bruta (2018), de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, retrato claustrofóbico da solidão de um jovem queer, e Até o fim (2020), de Ary Rosa e Glenda Nicácio, dupla que produz no Recôncavo baiano um cinema ao mesmo tempo popular e inventivo.
MOSTRA TRAÇOS DE ARTISTAS
Entre os dias 10 e 12 de fevereiro, a Cinemateca Brasileira apresenta a mostra Traços de artistas, que trará ao público uma aproximação com a vida e a obra de figuras emblemáticas para o campo das artes visuais.
A mostra abre com a trilogia Imagens do inconsciente (1986), projeto ao qual o diretor Leon Hirszman dedicou seus últimos anos de vida. Trata-se de uma série de três documentários sobre três artistas do Centro Psiquiátrico Pedro II do Rio de Janeiro: Fernando Diniz, Adelina Gomes e Carlos Pertuis, pacientes e frequentadores dos ateliês coordenados pela psicanalista Nise da Silveira.
Destaque também para Maria: não esqueça que eu venho dos trópicos (Ícaro Martins, 2017), uma investigação sobre a vida e a arte de Maria Martins, reconhecida como uma das maiores escultoras brasileiras. Martins foi uma figura chave no movimento surrealista na década de 1940, utilizando como inspiração mitos e símbolos amazônicos, além de abordar o tema da sexualidade de forma transgressora e pioneira. O documentário explora ainda a relação afetiva e artística de Martins com Marcel Duchamp, evidenciando as influências da escultora na obra do célebre artista francês.
Ziraldo – era uma vez um menino... (Fabrizia Pinto, 2021), documentário íntimo e pessoal feito pela filha do artista, Fabrizia Pinto, retrata o legado do cartunista mineiro em comemoração aos seus 90 anos. Entrevistas e depoimentos do próprio Ziraldo concedidos ao longo de quarenta anos revelam o entrelaçamento entre sua vida e produção artística.
A programação conta ainda com Kobra auto-retrato (Lina Chamie, 2022), sobre o grafiteiro brasileiro reconhecido internacionalmente, A paixão de JL (Carlos Nader, 2015), sobre o pintor, desenhista e escultor José Leonilson, e Sonhos (Akira Kurosawa, 1990), que realiza um encontro com o pintor holandês Vincent Van Gogh.
SÁBADO INFANTIL
A partir de janeiro de 2023, a Cinemateca Brasileira realiza sessões dedicadas às crianças com frequência quinzenal, sempre aos sábados. Serão exibidos filmes brasileiros e estrangeiros, de diferentes períodos e estilos, de modo a fomentar a formação de público cinematográfico desde a infância.
4 de fevereiro, sábado, às 15h
Menino Maluquinho – O Filme
Brasil, 1995, 82 min, cor, livre, 35 mm
Direção: Helvécio Ratton
Elenco: Samuel Costa, Patrícia Pillar, Roberto Bomtempo, Luiz Carlos Arutin, Hilda Rabello, Edyr de Castro, Vera Holtz, Othon Bastos, Tonico Pereira
Sinopse: Maluquinho é um menino brincalhão, levado e esperto, que começa a sofrer quando seus pais decidem se divorciar. Tudo muda quando Vovô Passarinho o leva para passar as férias no interior de Minas Gerais.
SESSÃO ABC
As sessões programadas pela Associação Brasileira de Cinematografia (ABC) estão de volta à Cinemateca em 2023. As exibições são sempre seguidas de conversas com profissionais do audiovisual e membros da equipe do filme exibido. Os encontros são bimestrais às 19h na sala Grande Otelo.
11 de fevereiro, sábado, às 19h
Marighella
Brasil, 2021, 155min, cor dcp, 16 anos
Direção: Wagner Moura
Elenco: Seu Jorge, Bruno Gagliasso, Luiz Carlos Vasconcelos, Bella Camero, Humberto Carrão, Jorge Paz, Carla Ribas, Charles Paraventi, Brian Townes, Adriana Esteves, Herson Capri, Maria Marighella
Sinopse: 1969. Carlos Marighella não teve tempo pra ter medo. De um lado, uma violenta ditadura militar. Do outro, uma esquerda intimidada. Cercado por guerrilheiros 30 anos mais novos e dispostos a reagir, o líder revolucionário deixa para trás seu filho para pegar em armas, tornando-se um notório inimigo da ditadura.
Serviço
Cinemateca Brasileira
Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Mariana
Tel. (11) 5906-8000
e-mail: [email protected]
Horário de funcionamento
Espaços públicos: segunda a sexta, das 8h às 18h
Biblioteca: segunda a sexta, das 10h às 17h (exceto feriados)
Salas de cinema: conforme a programação
Ingressos distribuídos 1h antes da sessão