O documentário brasileiro A Queda do Céu, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes - uma mostra paralela organizada pela La Société des Réalisateurs de Films (La SRF).
Trata-se de uma coprodução Brasil-Itália-França, da Hutukara Associação Yanomami e Stemal Entertainment com Rai Cinema e produção associada de Les Films d'ici, que adapta o livro homônimo de Davi Kopenawa, xamã Yanomami e um dos maiores líderes indígenas do mundo, e de Bruce Albert, antropólogo francês.
Este é o terceiro filme brasileiro a integrar a seleção do Festival de Cannes em 2024. Na competição principal pela Palma de Ouro, já havia sido confirmado Motel Destino, de Karim Aïnouz. E, na Semana da Crítica, Baby, de Marcelo Caetano. Todas as mostras são competitivas. O festival desenrola-se entre 14 e 25 de maio próximos.
Eryk Rocha
Eryk Rocha já tem uma sólida trajetória em Cannes. Em 2004, o cineasta disputou a Palma de Ouro de melhor curta-metragem por Quimera. Em 2016, recebeu o L'Œil d'or (Olho de Ouro) de melhor documentário no Festival de Cannes por Cinema Novo, seu sétimo longa.
Sobre a nova participação no evento, o diretor declarou: “Uma alegria imensa retornar ao Festival de Cannes, será minha terceira participação. Em 2016, Cinema Novo nasceu lá e viajou o mundo! Foi muito emocionante, ganhamos o L'Œil d'or de melhor filme documentário do festival. Agora, com A Queda do Céu na Quinzena dos Realizadores, será uma belíssima oportunidade e uma dupla celebração: de ver e ouvir explodir na tela o sonho e a luta do povo Yanomami e da força poética e geopolítica do xamã, filósofo e líder Davi Kopenawa. E, ainda, acompanhar a trajetória de um cinema que acreditamos e que está fora dos modismos e das convenções. De um cinema sem fórmulas, que navega no desconhecido, que transita entre a materialidade e o espírito e cuja linguagem surge da nossa relação com os Yanomamis e a comunidade de Watoriki, e que nasce, também, do nosso encontro com artistas Yanomamis que participaram criativamente da realização deste filme”.
O filme é uma codireção com a artista Gabriela Carneiro da Cunha: “Essa é minha estreia na direção no cinema. É uma grande emoção estar em Cannes, na Quinzena de Realizadores, em uma mostra reconhecida por sua ousadia e apuro estético. Esse é um filme que busca uma linguagem própria e essa busca foi completamente acolhida pela curadoria. De certo modo, é bonito pensar que o filme A Queda do Céu irá nascer na França, terra de Bruce Albert, um dos autores do livro homônimo e que em breve estará também circulando na Terra Indígena Yanomami”, complementa a diretora.
Enredo
O filme é centrado na festa Reahu, ritual funerário e a mais importante cerimônia dos Yanomami, que reúne centenas de parentes dos falecidos com a finalidade de apagar todos os rastros daquele que se foi e assim colocá-lo em esquecimento. A partir de três eixos fundamentais do livro (Convite, Diagnóstico e Alerta), o filme apresenta a cosmologia do povo Yanomami, o mundo dos espíritos Xapiri, o trabalho dos xamãs para segurar o céu e curar o mundo das doenças produzidas pelos não-indígenas, o garimpo ilegal, o cerco promovido pelo povo da mercadoria e a vingança da Terra.
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