Cannes - Condenado à prisão, chibatadas e confisco de propriedade pelo governo iraniano, o premiado cineasta Mohammad Rasoulof escapou do Irã clandestinamente e está, neste momento, em algum lugar da Europa. Na próxima sexta-feira (24-5), haverá em Cannes a exibição do novo filme do diretor, The Seed of the Sacred Fig, na competição do festival.
Devido à sua fuga do Irã, especulou-se em Cannes se o cineasta poderia comparecer à sessão no festival. Jean-Christophe Simon, vice-presidente da Films Boutique and Parallel45, distribuidora do filme, não desmente esta expectativa: “Estamos muito felizes e aliviados que Mohammad chegou com segurança à Europa depois de uma perigosa viagem. Esperamos que ele possa comparecer à première de The Seed of the Sacred Fig apesar de todas as tentativas de impedi-lo de estar presente”.
Por conta destas circunstâncias, a identidade do elenco e da equipe técnica, assim como os detalhes do enredo de seu novo filme, foram mantidos em sigilo, por temor de represálias do regime iraniano.
Prisão
Como se recorda, Rasoulof havia tido confirmada uma sentença de 8 anos de prisão, assim como chibatadas, uma multa e confisco de propriedade pela Corte Revolucionária Iraniana. Segundo o advogado do cineasta, Babak Paknia, em sua conta no X, “a principal razão dada pela Corte para esta sentença é Rasoulof ter emitido declarações e feito filmes e documentários. Na opinião da Corte, estas ações foram exemplos de um conluio com intenção de cometer um crime contra a segurança do país”.
Rasoulof tem sido impedido de deixar o Irã desde 2017, quando seu passaporte foi confiscado pelas autoridades. Ele cumpriu pena de prisão de julho de 2022 a fevereiro de 2023 e foi libertado dentro de uma ampla anistia. Pouco depois, ele foi notificado de que um novo processo havia sido aberto contra ele, desta vez a propósito do filme Não Há Mal Algum (2020), vencedor do Urso de Ouro em Berlim, um enredo crítico da justiça e da pena de morte em seu país.
Nome de peso no cinema mundial, Rasoulof participou três vezes da mostra competitiva Un Certain Regard em Cannes: com Be omid-e didar (melhor direção desta mostra em 2011); Manuscritos não Queimam (vencedor do prêmio FIPRESCI em 2013); e A Man of Integrity (vencedor do prêmio principal da seção em 2017).
Nota
Na nota divulgada pelo cineasta através do jornalista Mansour Jahani, Rasoulof justificou sua fuga: “Não tive muito tempo para tomar uma decisão. Tive que escolher entre a prisão e deixar o Irã. Com o coração pesado, escolhi o exílio”. Ele lembrou que o sistema judicial da República Islâmica “emitu tantas decisões estranhas e cruéis que eu não sinto que tenho direito de reclamar da minha sentença. Sentenças de morte estão sendo executadas à medida que a República Islâmica mira as vidas de ativistas de direitos humanos. É duro acreditar, mas agora mesmo, enquanto escrevo esta carta, um jovem rapper, Toomaj Salehi, está na prisão e condenado à morte. A máquina criminosa de República Islâmica está sistematicamente violando direitos humanos”.
Rasoulof concluiu sua declaração instando a comunidade cinematográfica internacional a “garantir um apoio efetivo aos realizadores destes filmes. A liberdade de expressão deve ser defendida claramente em alto e bom som. Sei por experiência própria que isto pode ser de valor inestimável para que continuem seu trabalho vital”. E acrescentou: “Muitas pessoas me ajudaram a fazer este filme. Meus pensamentos estão com todos eles, e temo por sua segurança e bem-estar”.