Rachel (Carice van Houten) é uma cantora judia holandesa. Depois de perder a família. ela entra na Resistência e se infiltra entre os oficiais nazistas.
10/01/2008
Paul Verhoeven volta à sua Holanda natal com o suspense de guerra A Espiã, depois de uma carreira de mais de 20 anos, que não comporta facilmente rótulos nos Estados Unidos, onde fez filmes dos mais variados gêneros, de RoboCop a “Showgirls”, passando por Instinto Selvagem. Por sua vez, A Espiã tem o diferencial de mostrar algo raramente abordado no cinema: a resistência nazista na Holanda. Exceto por Soldado Laranja, do mesmo diretor.
A história, como é de praxe no gênero, é baseada numa figura real, uma cantora judia – interpretada pela holandesa Carice van Houten - que com sua família tenta chegar ao sul da Holanda, livre da ocupação nazista. O barco é interceptado, todos são executados, mas ela consegue fugir. Mais tarde, Rachel Stein assume o nome de Ellis de Vries e se aproxima de oficiais da SS.
Mas como esse é um filme de Verhoeven, o diretor mostra o que há de sub num mundo que já não é muito agradável de se visitar. O diretor também não está nenhum pouco interessado em tornar esse passeio minimamente palatável, e por isso, não se importa em construir a trama em quase duas horas e meia.
É uma trama absorvente de fato – embora a trilha sonora seja onipresente e ruim – porque sempre fica no ar o que de pior pode acontecer com Rachel/Ellis. O pior dos piores inclui um banho de excremento – quando ela erroneamente tomada como uma colaboradora depois da queda dos nazistas.
Mas de tudo que há de difícil na jornada da personagem, o pior não são as humilhações e o medo – mas descobrir a sordidez do que as pessoas são capazes. Todos traem, viram a casaca ou não hesitam em entregar os amigos para salvar a pele. Em meio a tanta gente ruim, se sobressai Ludwig Müntze (Sebastian Koch, de A Vida dos Outros), oficial da SS e grande amor da vida da protagonista.
As intenções são grandes – dar a dimensão histórica e ir fundo na natureza humana – e Verhoeven nem sempre consegue abraçar tudo que está em sua frente. A quantidade de reviravoltas calculadas do filme também só servem para distanciar o foco. O melhor de tudo acontece no final pessimista, num kibutz em Israel – seria até interessante se o diretor optasse por passar mais tempo nesse cenário.
Alysson Oliveira