Nascido em Exu, interior de Pernambuco, o garoto Lula, apelido de Luiz Gonzaga, toca sanfona e anima bailes, seguindo os passos do pai, Januário. O conflito com um coronel o leva a ir para a capital, onde entra no exército, e segue para o Rio de Janeiro - onde vai deslanchar a trajetória musical do Rei do Baião, futuro pai do compositor Gonzaguinha.
24/10/2012
O diretor brasiliense Breno Silveira tem um afinado olhar musical e humano. Foi assim em Dois Filhos de Francisco, de 2005, em que recria a infância e a vida adulta da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano, prosseguindo em À beira do caminho, deste ano, embalado nas canções de Roberto Carlos. Agora, ele lança Gonzaga, de pai pra filho, comovente biografia de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e de seu filho, Gonzaguinha, um dos mais importante compositores da geração universitária da MPB, ao lado de Ivan Lins e de Aldir Blanc, morto precocemente em um acidente de carro, em 1991, aos 45 anos. Luiz Gonzaga morreu em 1989, aos 77 anos.
O filme de Breno tem tudo para encantar o público: uma profunda história humana, calcada na difícil relação entre pai e filho, uma reconstituição de época muito bem cuidada, elenco afinadíssimo (até em termos musicais) e a música eterna de Gonzaga que, apesar de marcadamente regional, se espalhou como rojão de festa junina pelas capitais além do Nordeste e até pelo exterior.
O enredo acompanha a infância pobre de Gonzaga (interpretado por Land Vieira na adolescência, por Chambinho do Acordeon na fase adulta e por Adélio Lima, na maturidade), filho de Januário (Cláudio Jaborandy), um respeitado sanfoneiro do sertão de Pernambuco e seu empenho em viver da música, apesar de todas as dificuldades. Com o destino traçado pela pobreza, numa sociedade dominada por chefes locais conhecidos por coronéis, por manterem a ordem em seus domínios a ferro e fogo como chefes militares, não restou outra opção ao menino Lula a não ser fugir de casa e ir para a capital, onde acabou se alistando no exército. Graças a isso pôde enviar algum dinheiro à família e, posteriormente, partir para o Rio de Janeiro, então a capital do País, já pensando em sobreviver da música. Ainda não como compositor, mas com apresentações nas ruas e bares da cidade em troca de trocados para um prato de comida.
Num dancing da cidade conheceu Odaléia (Nanda Costa), com quem se casou e teve o filho Luiz Gonzaga Jr., o Gonzaguinha. Mas a morte prematura da mulher, por tuberculose, acabou criando problemas no relacionamento entre pai e filho. Gonzaga passou a se ausentar cada vez mais de casa para fazer shows pelo Brasil, deixando o menino sob os cuidados de um casal de amigos, que viviam no Morro de São Carlos, que na prática acabaram criando o garoto. Dina (Silvia Buarque), que não tinha filhos, se apegou à criança como se fosse relmente sua (já famoso, Gonzaguinha a homenagearia na canção Com a perna no mundo).
E é a difícil relação entre os dois, valorizada pela atuação de Júlio Andrade como o jovem músico carioca, que encharca o filme de um drama humano em que rancor e amor duelam num mesmo corpo, o que só é vivido em profundidade em dramas familiares carregados de culpa. Abandono, ressentimento e perdão são os sentimentos que irão aflorar até o final da projeção. Gongazão e Gonzaguinha, almas tão diversas, mas que se fundem na música. No final, entenderam que estavam na mesma estrada. Pena que o caminho do filho foi tão curto.
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Luiz Vita