Uma epidemia zumbi está contaminando a humanidade e ameaçando acabar de vez com a espécie e o planeta. Tentando impedir a tragédia, sai a campo o especialista da ONU, Gerry Lane.
25/06/2013
Não foi nada fácil para os envolvidos concluírem Guerra Mundial Z, o filme com zumbis mais caro da história do cinema, cujo custo superou US$ 200 milhões (quase meio bilhão de reais). Atrasos, adiamentos, roteiro reescrito, refilmagens, orçamento estourado e muita boataria na internet, incluindo aí brigas ferrenhas entre seu produtor e astro Brad Pitt e o diretor Marc Foster (A Última Ceia).
Entender o motivo de tanta celeuma é um exercício que remonta à origem, isto é, ao livro em que se baseou a produção , “Guerra Mundial Z – Uma História Oral da Guerra dos Zumbis” (Editora Rocco, no Brasil). Escrito pelo americano Max Brooks, o mesmo autor do curioso “O Guia de Sobrevivência a Zumbis”, trata-se de uma bem amarrada compilação de relatos dos sobreviventes de um imaginário apocalipse zumbi que varreu grande parte da população da Terra e mudou tudo.
Fora o tema, o livro não é delirante em nada mais. Bem construído e com excelente pesquisa para montar sua ideia, os depoimentos do antes e depois do que chama “Guerra dos Zumbis” refletem uma crítica a políticas e doutrinas bastante reais e atuais, como a ineficiência de governos em antever crises, o espírito de separatismo, a cegueira fundamentalista, a desinformação intencional, a burocracia das organizações internacionais de apoio. No fim, Brooks escreve um livro com propensão política usando como pano de fundo os zumbis.
Essa característica é que deu início à série de problemas. Com os direitos comprados pela Plan B, de Brad Pitt, e os estúdios Paramount, em 2006, os interesses começam a ser conflitantes. Do que seria o filme afinal? Diretor, astro/produtor e estúdio chegaram a uma conclusão inicial: um filme de ação sobre a tal guerra, tendo como protagonista Pitt, que se revelaria no fim um grande herói na luta e colocaria em marcha uma possível sequência.
Pitt é então Gerry Lane, um oficial afastado da ONU, que volta à ativa quando uma horda de zumbis invadem as ruas. Ele e sua família conseguem um espaço em um navio militar americano mas, para que fiquem lá, Gerry precisa provar que são úteis (do contrário seriam mandados de volta). Assim, ele é obrigado a viajar pelo mundo, em áreas invadidas pelos mortos-vivos, para encontrar o chamado “paciente zero” e explicações de como enfrentar a epidemia.
Na Coréia do Sul, Israel e, por fim, Reino Unido, Gerry enfrenta multidões de zumbis, começa a juntar as peças e ruma para a cura. Nada disso está no livro, aliás, nem o personagem central. Apenas as explicações dadas nos relatos por onde passa mantiveram algumas críticas e o viés político de Brooks, mas em doses comedidas.
Na versão original do roteiro, no entanto, o filme acabaria com uma grande batalha na Rússia, em que Gerry triunfaria como um herói. A explicação sobre o que aconteceu com o personagem e sua família ficaria para uma sequência. Este final, considerado abrupto e obscuro pelo estúdio, foi, por isso, reescrito e refeito.
Analisado apenas o filme, Guerra Mundial Z deixa a desejar como obra de terror. Apesar das boas cenas de invasão zumbi, eles nunca foram tão rápidos e agressivos. A produção é contida, graças a uma ingerência do estúdio para a classificação indicativa não restringir a audiência adolescente e, consequentemente, os lucros na bilheteria. Assim, nada de banhos de sangue, mutilações ou mesmo lutas viscerais entre infectados e humanos.
Como a dimensão política foi reduzida e o desfecho à primeira vista não sugere sequências, foi possível questionar se o filme havia agradado aos envolvidos. Forster saiu chamuscado pela crítica internacional, acusado de não estar preparado para realizar um filme de ação (um rescaldo do seu denegrido 007 – Quantum of Solace). Brad Pitt lutou até o fim para dar mais substância ao filme, mas prevaleceu o critério da classificação etária. O estúdio tinha nas mãos uma produção que não parecia capaz de dar o retorno desejado para um blockbuster que marca seus 100 anos.
No entanto, em um revés dramático, o sucesso da bilheteria da estreia, nos EUA (US$ 66 milhões) e no resto do mundo (US$ 118 milhões), acalmou os ânimos e fez o próprio estúdio anunciar uma possível franquia. Muito se deve ao trabalho de promoção de Brad Pitt pelo mundo (não veio ao Brasil por causa dos protestos), que não queria amargar prejuízos com a Plan B e estremecer sua parceria com a Paramount.
Rodrigo Zavala