No século XVI, um casal de irmãos órfãos franceses desembarcam no Brasil junto com um grupo de cavaleiros que pretendem colonizar uma região. Num país em formação, a dupla passará por experiências marcantes.
29/05/2014
Fosse cinema matemática, Vermelho Brasil seria o resultado de uma soma do romantismo ingênuo de Iracema, de José de Alencar, com Coração das Trevas, de Joseph Conrad, multiplicada pela globalização, na qual inglês é a língua franca – ou seja, uma espécie de samba do colonizador francês doido. Baseado num premiado livro francês homônimo, de Jean-Christophe Rufin, o filme é uma versão editada de uma série de televisão, coproduzida entre Brasil, França, Canadá e Portugal.
O tema é a colonização francesa em terras brasileiras, no século XVI, onde se pretendia se fundar a França Antártica. Talvez pela condensação de uma série de televisão num filme de 90 minutos, tudo parece apressado, mal explicado e mal resolvido. A narrativa começa na Europa, onde os irmãos Just (Théo Frilet) e Colombe (Juliette Lamboley) são mandados para o Brasil, a pretexto de reencontrar o pai, um cavaleiro. Como a missão não aceita mulheres, a garota tem de se passar por homem. Além disso, os dois irão aprender tupi para se comunicar com os índios.
Aparentemente, o esforço de aprender a língua dos nativos é desnecessário, pois chegando aqui, percebem que boa parte dos índios fala inglês – assim como todos os europeus (!). Superado o problema da linguagem, o filme, do canadense Sylvain Archambault, transita entre o estereótipo do nativo selvagem e do branco ganancioso. Nas aldeias, encontram-se dois deles já instalados, o português João da Silva (Joaquim de Almeida) e o francês Pay Lo (Pietro Mário), que está completamente absorvido pela aldeia – tanto que se porta como um índio. Enfim, são a versão má e a boa do Kurtz, do romance de Conrad.
O cavaleiro-chefe da expedição é Villegagnon (Stellan Skarsgård), que, mesmo sendo cruel, é justo e tão resolvido, quanto todas as outros personagens. Talvez a série completa faça mais sentido e seja mais interessante, porque os saltos na trama e na evolução dos personagens aqui perdem todo o sentido - como quando aparece a imagem do Rio de Janeiro sem favelas no final de Vermelho Brasil, tentando fazer uma ponta entre passado e presente.
Alysson Oliveira