O documentarista Georges Gachot lança um olhar estrangeiro sobre o samba brasileiro, enquanto acompanha os preparativos da escola Unidos de Vila Isabel para o carnaval de 2013. A figura central no filme é o sambista Martinho da Vila, que resgata sua trajetória e conta histórias sobre sua carreira e o carnaval.
23/09/2015
O terceiro documentário do francês Georges Gachot sobre a música brasileira tem mais sorte do que os dois anteriores – Maria Bethânia, Música É Perfume e Nana Caymmi em Rio Sonata – pois tem um protagonista bem mais carismático diante das câmeras do que as outras duas cantoras. Ainda assim, padece exatamente do mesmo problema dos antecessores: é “filme-pra-gringo”. Se existe alguma dúvida disso, ela deve se dissipar num momento em que Martinho da Vila aponta para um chuchu no pé e explica o que é aquilo.
O Samba acompanha o veterano cantor e compositor e a preparação para o desfile da Unidos de Vila Isabel de 2013. Vemos, pelos olhos do estrangeiro, o exotismo do colorido das fantasias e carros alegóricos. Esse é o mesmo prisma que apaga as relações de classe, que poderiam ser reveladas por um olhar estrangeiro, que permeia os desfiles, cada vez mais elitizados. É apenas na fala do cantor Moyseis Marques que o assunto é tocado brevemente.
Martinho é carismático, sabe contar histórias e cantar com humor e paixão – mas, o filme não é exclusivamente sobre ele, então o que fica é a tentativa de percepção de uma manifestação cultural que parece incompreensível ao francês deslumbrado com as plumas e paetês, e com os laços de afeto que surgem entre os membros das escolas de samba.
O olhar viciado compra o Carnaval do Rio pelo preço que lhe é vendido – pelo glamour da apresentação. Há momentos – quando a escola desfila ou quando Martinho canta – que são bonitos de se ver, mas é possível observar que passam longe do cerne da questão: para usar uma expressão da moda, a gourmetização do carnaval carioca.
Alysson Oliveira