29/05/2003
Sem dúvida, os reality shows da TV se tornaram a mais eficiente forma de ilusão que a cultura de massas já produziu: vendem aos espectadores o espelho fiel da mesquinhez do cotidiano e das relações humanas, quando na verdade dançam conforme o estatuto de espetáculo e das leis de mercado. Uma fórmula de sucesso que a indústria cinematográfica não poderia deixar passar imaculada.
No entanto, os exemplos de filmes que incorporaram o conceito, como O Sobrevivente e o último O Olho que Tudo Vê, mostram que, antes de serem apenas cópias deliberadas, são densas críticas sociais contra a curiosidade nefasta dos outros pela intimidade alheia. Desta forma, a pornografia, a escatologia e a morbidez servem como instrumentos demolidores da excitação voyeurista, dada como saudável pela televisão.
No suspense O Olho que Tudo Vê, cinco jovens têm como desafio morar em uma casa abandonada por 6 meses, monitorados por câmeras 24 horas por dia. Se alguém sair, o jogo acabou, se ficarem, receberão US$ 1 milhão. No entanto, uma série de fatos começa a fazer os participantes reviverem antigos pesadelos. O pânico e a histeria dos jogadores é mostrado pelas webcams, persuadindo o espectador durante a história.
Fica evidente durante a história que o diretor bebe em filmes como, A Bruxa de Blair (1999) e, porque não dizer, na parte mais repulsiva de 8mm (1999): sua temática envolvendo snuff films. Uma miscelânea prática para colocar toda a crueldade humana a favor da devastadora visão do diretor Marc Evans.
O espectador que deixar escapar essa preocupação encontrará apenas um filme de suspense macabro, cujo o fim está na violência desmedida. E claro, sem valor a ser agregado - a discussão sobre a ilusão na cultura de massas - a produção não terá atrativos muito além do que os fãs de cinema de terror sempre procuram: medo, sangue e morte.
Cineweb-29/5/2003
Rodrigo Zavala