O personagem de Woody Allen, em Todos Dizem Eu te Amo (1996), só conseguiu conquistar o coração da bela Julia Roberts personalizando o que a moça acreditava ser o homem perfeito. Mas, depois de transformado em realidade, o sonho perdeu a magia e Allen acabou trocado pelo ex-marido de Roberts. A comédia romântica O Último Beijo, de Gabriele Muccino, também tem como tema as expectativas geradas a partir da fantasia.
Tudo vai bem no relacionamento de Giulia (Giovanna Mezzogiorno) e Carlo (Stefano Accorsi) até o anúncio da chegada de um filho. Diante da responsabilidade e do iminente casório, o futuro papai mergulha numa crise agravada pelo depoimento do amigo Adriano (Giorgio Pasotti), que divide o tempo entre as mamadeiras do filho e as brigas com a esposa Livia (Sabrina Impacciatore). O bebê também mexe com a cabeça da mãe de Giulia, Anna (Stefania Sandrelli), que, aos 50 anos de idade e 39 de casada, vê o fato de se transformar em avó o fim definitivo da juventude.
A imagem da liberdade que desaparecerá após o nascimento do filho é materializada na bela Francesca (Martina Stella), uma garota de 18 anos que fica perdidamente apaixonada por Carlo. A crise dos trinta também acomete o amigo de Carlo, Paolo (Claudio Santamaria), que tenta encontrar uma maneira de fugir dos negócios da família e superar tanto a morte do pai como o fim de um relacionamento. O único que parece ser feliz é Alberto (Marco Cocci) cuja maior dificuldade é aceitar a monogamia.
Não apenas a infidelidade é foco de O Último Beijo, mas principalmente o medo do compromisso que para os personagens é o oposto da palavra liberdade. Mas Sartre, pela boca do protagonista de A Idade da Razão, defende que a liberdade não pode ser um estilo de vida, porque dessa maneira torna-se paradoxalmente uma prisão. A liberdade está nas escolhas que fazemos.