"Todos precisam ir fundo em si mesmos". A frase, uma das primeiras falas de A Colecionadora, o quarto filme da série de Seis Contos Morais, do diretor francês Éric Rohmer, passa a idéia que os personagens têm em mente durante boa parte da ação, embora nem todos consigam atingir esse propósito.
Após os coloridos créditos inciais, o primeiro prólogo apresenta silenciosamente a personagem Haydée (Haydée Polytoff). Enquanto anda na praia, são mostrados closes de várias partes de seu corpo. O segundo prólogo mostra Daniel (Daniel Pormmereulle), um pintor que filosofa com um amigo sobre as necessidades do ser humano. O terceiro protagonista, Adrien (Patrick Bauchau), é introduzido na trama enquanto tem uma animada conversa com um grupo de amigas e a namorada sobre a importância da beleza nos relacionamentos. Sua namorada o avisa que passará uma temporada na Inglaterra e isso faz com que ele resolva se isolar com Daniel numa casa à beira-mar longe do resto da humanidade.
Chegando à paradisíaca casa, ele descobre que um conhecido está hospedado lá com uma namorada, Haydée. Isso frusta os planos de Adrien, mas ele tenta fazer como pretendia. Todos os dias acorda cedo, vai direto para a praia e passa o restante do dia lendo e filosofando. Porém, suas noites ficam cada vez mais complicadas devido à intensa e barulhenta atividade no quarto ao lado. Após uma discussão, o amigo vai embora, mas Haydée decide ficar, criando uma estranha dinâmica amorosa com os dois amigos, Adrien e Daniel.
No início, ela tenta seduzir Adrien, que se mostra afoito, embora a deseje. Para não perder tempo, cada noite a moça passa com um homem diferente. E enquanto discutem esse estranho hábito de Haydée, os dois amigos chegam à conclusão de que ela é uma colecionadora de homens, o que para eles não chega a ser uma atividade condenável.
Após muitos jogos de sedução, Adrien decide ficar com Haydée, mas ele a encontra com Daniel, causando-lhe ciúmes. É nessa hora que o rapaz é obrigado a confrontar seus sentimentos verdadeiros e descobrir se ama a moça, ou se apenas quer fazer parte da coleção dela.
Como em seus outros filmes sobre relacionamentos, Rohmer é verborrágico: fala-se muito, filosofa-se mais ainda, dando a impressão de que a história não evolui, o que não é bem verdade. Sutilmente, o roteiro de A Colecionadora dá margem a diversas discussões, sobre amor, desejo, amizade. O filme concentra-se durante a maior parte do tempo nas três figuras centrais possibilitando a cada ator explorar da melhor forma possível o seu personagem. Até por isso, o trio principal é creditado também como roteiristas, pois tiveram a liberdade de criar conforme o momento.
Embora o filme seja do final dos anos 1960, não é de forma alguma datado. Aliás, muitas das situações eram bem moderninhas na época, um tempo em que as pessoas estavam experimentando a liberdade e o amor, e isso nunca deixa de ser atual.