O jovem soldado Jeferson (Silvio Guindane) volta para casa quando o avisam da morte de seu irmão. Decide acompanhá-lo para reconhecer o corpo um amigo de infância que há muito ele não via, Kennedy (Fábio Nepô). O reencontro é a oportunidade para que os dois percorram a cidade e relembrem a infância passada em comum.
- Por Neusa Barbosa
- 27/04/2004
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Estreante no longa em ficção (antes, só dirigira o documentário Um Filme de Marcos Medeiros e três curtas-metragens), o paulista Ricardo Elias foi o grande vencedor do Festival de Gramado 2003, acumulando os Kikitos de melhor filme, diretor, ator coadjuvante (para Fábio Nepô) e roteiro, além do prêmio da crítica.O expressivo número de premiações, ainda que fazendo jus às qualidades do filme, ainda mais numa edição do festival em que os representantes nacionais foram extremamente fracos, não deve encobrir suas inegáveis deficiências. O diretor novato em longa-metragem de ficção ficou devendo alguns pontos em maturação do roteiro e até numa maior ousadia visual de sua história, em torno de três amigos, dois deles irmãos, que nascem e crescem numa periferia da cidade de São Paulo, mas tomam destinos bem diferentes. Com vários flashbacks que mostram os três ainda meninos, o foco narrativo principal acompanha a volta à casa do soldado Jéferson (Sílvio Guindane) depois de avisado da morte de seu irmão, Washington. Quem decide acompanhá-lo no reconhecimento ao corpo, que apareceu num terreno longínquo, em Francisco Morato, é o amigo de infância Kennedy (Fábio Nepô). Os dois se perdem pela cidade, num sobe-e-desce de trens que, a partir de um momento, perde o sentido e se torna excessivo. Parece que o diretor não sabia muito bem onde colocar os seus personagens, já que a intenção de mostrar a cidade despossuída em que se movem e um certo estranhamento entre os dois já estava definida. Bem-intencionado e indiscutivelmente honesto e despretensioso, o filme conta com a presença de um ótimo ator, Sílvio Guindane, que esteve pela primeira vez no Festival de Gramado menino, em 1986, com Como Nascem os Anjos, de Murilo Salles - aliás, outro excelente filme nacional sobre essa mesma questão social que continua a assombrar a realidade brasileira e, por isso mesmo, deve continuar a povoar a imaginação dos roteiristas nacionais. Mas, depois da passagem de Cidade de Deus, Carandiru e O Invasor pelas telas, o público já adquiriu novos padrões de olhar para o próprio cinema. E espera um pouco mais quando algum criador resolve abordar temas como a desigualdade e a exclusão.