Raramente filmes albaneses entram em circuito fora de seu país de origem. Porém, Slogans prova que lá também existe um cinema de qualidade, que merece ser descoberto. Estreando em longas, o cineasta Gjergi Xhuvani fez uma comédia dramática de teor político que consegue encontrar seu humor e passar uma mensagem - e com essa mistura acaba lembrando o alemão Adeus, Lênin!, embora seja bem mais modesto em seus propósitos e realização.O roteiro gira em torno de uma batalha entre a forma e o conteúdo. Andre (Artur Gorishti) é um professor que sai da capital, Tirana, e vai para um pequeno vilarejo no interior da Albânia. Teoricamente, ele ensinará biologia, mas, na verdade, descobre que a nova escola está mais interessada em ensinar ideologias do que as típicas matérias do currículo. Logo de início, é obrigado a escolher um slogan para os seus alunos. Sem saber o que fazer opta pelo menor deles, e desperta a ira da professora de francês Diana (Luiza Xhuvani), que acabou ficando com o maior "O imperialismo americano é um tigre de papel".Os pupilos aprovam veementemente a escolha do mestre, mas não por razões ideológicas, claro. Por ele ter escolhido o menor, as crianças terão menor trabalho em montar a tal frase com pedras brancas em uma das montanhas da cidade. O verdadeiro significado do slogan é irrelevante. O que realmente importa é o seu tamanho e o trabalho que os alunos terão em montá-lo, é o que o professor percebe aos poucos. Dessa forma, Slogans mostra o quanto é perigosa e devastadora a reeducação feita por diversos regimes políticos. Em uma cena que ao mesmo tempo é hilária e tocante, um menino confunde a política da China com a da URSS, mas não por motivos ideológicos, apenas um erro estudantil. No entanto, esse lapso é o bastante para se acionar um comitê que irá investigar o garoto e sua família, para descobrir quem anda plantando tais idéias na cabeça dele. Flertando com a sátira, a denúncia e a tragédia, Xhuvani mostra o quão perigoso é o fanatismo político. Sua história se passa em plena ditadura Enver Hoxha. E o crescente absurdo da situação cumpre com o propósito do filme: não deixar que o mundo -e principalmente os albaneses - se esqueça das atrocidades de tais regimes.