24/04/2025
Drama

Voltando Para Casa

Em crise conjugal, Julie descobre que um de seus filhos está com câncer. A chance de cura está num médico místico. Para chegar ao médico, ela enfrentará várias barreiras envolvendo a fé e a razão.

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Com um roteiro original, escrito em parceria com Arlene Sarner e Roman Gren, a cineasta polonesa radicada nos EUA Agniezka Holland constrói um intrincado edifício dramático, onde os ingredientes são fé, religião, crendice, paixão, traição, amadurecimento. A protagonista é Julie (a atriz australiana Miranda Otto, da trilogia O Senhor dos Anéis), mãe de um casal de gêmeos de oito anos, que fica chocada ao pegar o marido (William Fichtner) em flagrante adultério na própria casa. Ela tenta a separação, mas um outro dilema atravessa sua vida: um de seus filhos (Ryan Smith) é diagnosticado com câncer e tem poucas esperanças de cura.

 

Depois de percorrer o dolorido calvário a que a medicina submete pessoas em sua situação, Julie, que é filha de poloneses católicos, resolve desafiar o ateísmo cientificista do marido judeu e viajar até a Polônia, onde vive um famoso místico, Alexy (Lothaire Bluteau), a quem se atribuem inúmeras curas milagrosas. A viagem terá conseqüências não só médicas para o menino, como também emocionais e amorosas para a mãe.

 

A seu favor, diga-se que não é um filme simplista. Agnieszka é uma diretora e roteirista experiente, que tem a seu crédito a história original de A Liberdade é Azul, de Krzystof Kieslowski, e o roteiro de Sem Anestesia, de Andrzej Wajda. Temas como dualidade, misticismo e religião não lhe são estranhos, igualmente. Ela já os abordou de diversas maneiras, politicamente em trabalhos como Europa, Europa (sobre um garoto judeu na II Guerra que se faz passar por ariano), emocionalmente em Olivier, Olivier (sobre um menino desaparecido que volta para casa mas deixa dúvidas sobre sua real identidade) e misticamente no mais recente O Terceiro Milagre (que é o trabalho menos realizado de todos).

 

Em Voltando para Casa, Agnieszka (que é de origem judia e teve diversos problemas com anti-semitismo em seu país, anos atrás) se equilibra mais uma vez na corda bamba, entrando no território perigoso que apaga as fronteiras entre a fé e a vontade de crer em algo além da ciência. Nem todas as soluções são boas no filme, mas não se lhe pode negar ambição e ousadia. Uma de suas maiores qualidades está na complexidade impressa a todos os personagens, particularmente ao da protagonista Julie - uma criatura moderna, inteira, que foge ao esquematismo binário do grosso da produção cinematográfica mundial, que enquadra a maioria dos personagens femininos ou no estereótipo da santa ou da prostituta. Julie, vivida com empenho pela atriz Miranda Otto, é uma mulher comum, de seu tempo e que sofre uma profunda evolução, abrindo-se para a descoberta de que na vida não é possível controlar tudo, é preciso deixá-la simplesmente acontecer. Declaração mais humanista e menos religiosa do que esta é difícil de encontrar.

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