25/04/2025
Humor negro Drama

Edukators

Três jovens, Jan, Jule e Peter, enfrentam a apatia do cotidiano invadindo casas de ricos não para roubá-los, mas para tirar suas coisas do lugar e deixar mensagens perturbadoras. Um dia, o dono de uma casa volta antes do previsto.

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A rebelião política é o tema central desta co-produção austro-alemã, que competiu no Festival de Cannes/2004 e delineia a aventura amorosa, social e política de um cativante trio de jovens intérpretes: o já conhecido do público brasileiro Daniel Brühl (o protagonista de Adeus, Lênin!), Julia Jentsch e o croata Stipe Erceg. Eles interpretam, respectivamente, Jan, Jule e Peter, amigos que ressuscitam um velho sonho ausente desde a primavera de 1968: mudar o mundo, desafiando o conceito de que o século XXI já enterrou o Muro de Berlim, a História, as ideologias e qualquer possibilidade de utopia.

A utopia pessoal de Jan e Peter é com certeza muito diversa dos engajados revolucionários esquerdistas do século passado. Autodenominando-se "the edukators" (os educadores), os dois rapazes perdem noites de sono desativando alarmes de residências luxuosas, escolhidas a dedo, invadindo-as quando os moradores estão fora. O objetivo não é roubo nem violência. Os dois limitam-se a tirar todos os móveis e objetos do lugar, deixando atrás bilhetes assim: "Os seus dias de vacas gordas estão contados" e "vocês têm dinheiro demais". Nada mais pretendem do que abalar o sono tranqüilo dos burgueses.

A loura Jule instala-se no apartamento dos dois rapazes, abalando o equilíbrio. Namorada de Peter, envolve-se com Jan quando o primeiro viaja para Barcelona. Na ausência do namorado, os dois lançam-se numa empreitada pessoal de alto risco. Jan e Jule invadem a casa de um ricaço, Hardenberg (Burghart Klaussner, o pai de Adeus, Lênin!), responsável por um sério problema na vida da moça. Há tempos, Jule bateu seu carro no Mercedes de Hardenberg e agora cada centavo que ganha serve para pagar-lhe uma astronômica (para ela) dívida de 100.000 euros.

Desta vez, a invasão de domicílio resulta desastrada. O milionário chega sem aviso e os jovens decidem seqüestrá-lo. Durante o seqüestro, instala-se uma curiosa convivência entre estas gerações e classes sociais que nunca se encontram, muito menos conversam com alguma civilidade numa mesa de café, como acontece aqui. Neste segmento, o diretor-roteirista Hans Weingartner, austríaco em seu segundo longa-metragem, instila uma benévola ironia que oxigena a narrativa, sempre bastante esperta. Mas a ironia suprema ele reserva para o final, excelente.

Por coincidência, o filme foi exibido nos cinemas brasileiros pouco depois de Os Sonhadores, de Bertolucci, que justamente retrata a geração 1968. O diálogo entre os dois filmes com certeza é um exercício interessante para os espectadores.

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