08/02/2025
Drama

A Noite

O escritor Giovanni e sua mulher, Lidia, devem cumprir vários compromissos numa noite. É lançamento de um dos livros de Giovanni, seguido de uma festa na casa de milionários. Mas também é preciso visitar no hospital o amigo Tommaso, que está morrendo.

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Profundamente interessado em temas como a solidão e a dificuldade da comunicação humana, o cineasta italiano Michelangelo Antonioni retrata a crise de um casal burguês, Lidia (Jeanne Moreau) e Giovanni (Marcello Mastroianni), depois de dez anos de casamento. A história acompanha os dois numa noite marcada por três acontecimentos: a visita a um velho amigo, Tommaso (Bernhard Wicki), que está morrendo num hospital; o lançamento de um novo livro de Giovanni; e a ida a uma festa na mansão de uma família de milionários.

Depois da visita ao amigo, Lidia acompanha Giovanni ao lançamento de seu livro, mas escapa dali num passeio pela rua, à procura de alívio para seus sentimentos perturbados. Ao mesmo tempo em que alimenta um flerte com vários homens que passam em seu caminho, acaba chegando a um pequeno bar num bairro afastado, um lugar que ela freqüentava com o marido, anos atrás. Telefona a ele, pedindo que a vá buscar. Os dois saem para uma boate, onde assistem a um show de striptease – um misto de acrobacia circense e simulação erótica que sinaliza as intenções do cineasta ao seguir o jogo de aparências mantido pelo casal. A noitada acaba na luxuosa casa de um rico industrial, que convidara o escritor como atração para uma festa que dava a vários convidados, da alta burguesia entediada que ocupa o centro da história.

Giovanni não é estranho à família. Teve um envolvimento com a herdeira, Valentina (Monica Vitti), um detalhe que não escapa a Lidia, que os observa de longe. Uma das mais belas cenas do filme apresenta Giovanni observando, pelo reflexo numa porta de vidro, Valentina , que joga sozinha no chão um absurdo jogo de xadrez, sozinha, com sua bolsa, deslizando de um lado para outro da sala. Uma cena que antecipa o jogo de tênis imaginário de outro filme de Antonioni, Blow-Up (1966).

A primorosa fotografia (de Gianni Di Venanzo) desta cópia renovada mostra os personagens diversas vezes com alternância de luzes e sombras, uma pista de suas hesitações e disfarces, em tentativas de relacionamentos sempre interrompidos. Lidia, por sua vez, estimula a corte de um outro convidado (Giorgio Negro), mas a proximidade entre os dois não vai além de um curto passeio de carro, sob uma chuva torrencial que turva as imagens dos dois – outra metáfora visual poderosa das dificuldades da comunicação e de elaborar um retrato preciso dos sentimentos humanos.

A seqüência mais dramática começa depois que Lidia, ao saber pelo telefone da morte do amigo no hospital, confessa a Giovanni sua passada intimidade com ele. A desesperada busca de recuperar a intimidade entre os dois marca esta parte final.

Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim/1961, é um dos filmes mais marcantes da obra de Antonioni. Elegendo como temas principais a incomunicabilidade e a solidão humana, o diretor italiano tornou-se um dos maiores criadores do cinema moderno dos anos 1950 e 1960, com uma dramaturgia centrada no mal-estar da civilização, no individualismo e no existencialismo do filósofo francês Jean-Paul Sartre.

Este filme faz parte de sua famosa trilogia sobre a alienação, ao lado de A Aventura (1960) e O Eclipse (1962). Desde 1982, quando sofreu um derrame, o cineasta reduziu sensivelmente suas atividades. Nesse período, só assinou um filme, Além das Nuvens (1995), com a colaboração estreita do alemão Wim Wenders, e um dos episódios de Eros (2004). Morreu em 2007. 

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