07/02/2025
Drama

Eros

Três diretores e um mesmo tema: o amor. Michelangelo Antonioni, Steven Soderberg e Wong Kar Wai mostram a sua visão sobre a difícil arte de amar em três curtas distintos reunidos em Eros

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Muito antes de seu lançamento na Europa, a antologia formada por três contos eróticos dirigida por diferentes cineastas foi pivô de todo tipo de especulação. Todas envolvendo o episódio realizado por Michelangelo Antonioni, que junto com o americano Steven Soderbergh e o chinês Wong Kar Wai assinam Eros.

Em primeiro lugar, as dúvidas da real autoria do curta A Perigosa Linha das Coisas, o primeiro da trilogia. Além de não ser familiar às obras anteriores do cineasta italiano, suspeita-se que ele não reunia condições físicas para dirigir a produção (debilitado pela idade). Por outro lado, não foram poucas as cenas cortadas por serem consideradas fortes pelos produtores. Uma decisão que dificilmente Antonioni acataria em outros tempos.

Por essas razões, pouco se pode aproveitar da história sobre a incomunicabilidade, teoricamente filmada por Antonioni. Com diálogos mal elaborados e uma dublagem excêntrica, A Perigosa Linha das Coisas não empolga. Ao contar a história de um casal que não consegue conversar sem se deprimir ou brigar, e encontra na bela vizinha um elo para manter o relacionamento, a produção nivela por baixo a compreensão de quem a assiste. Torna-se, no fim, o calcanhar de Aquiles da antologia.

Eros começa a ganhar gás com o episódio seguinte. Equilíbrio, dirigido por Soderbergh, mostra um publicitário sem idéias (Robert Downey Jr.), que tenta desesperadamente entender um sonho erótico no divã de seu psicanalista (Alan Arkin). É o competente alívio cômico da trilogia, interpretado com grande humor pelos atores - competentes nos elaborados diálogos e movimentos corporais.

Mas a grande surpresa está mesmo na produção A Mão, do chinês Wong Kar Wai (Amor à Flor da Pele). Como em suas produções anteriores, nota-se o cuidado com os enquadramentos, os diversos filtros utilizados para potencializar a fotografia e todos os usos expressivos que faz da trilha sonora. Grande parte da beleza desta história recai também nas belas cenas protagonizadas pela atriz Gong Li (O Último Entardecer, Lanternas Vermelhas), como a cortesã que seduz o jovem alfaiate, em Hong Kong.

Quem une as diferentes histórias é a música "Michelangelo Antonioni", composta por Caetano Veloso especialmente para o filme. Na Seleção Oficial de Veneza 2004 foi dito, não poucas vezes, que o melhor do filme era justamente essa canção. Um equívoco com pelo menos duas histórias.

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