26/03/2025
Drama

A Humanidade

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O diretor francês Bruno Dumont é o que se pode chamar de favorito do Festival de Cannes. Em 1997, levou o Camera d'Or, troféu destinado aos cineastas iniciantes, por seu trabalho de estréia, A Vida de Jesus. Em 1999, com seu novo filme, A Humanidade, venceu o Grande Prêmio do Júri, o de melhor atriz (Sévèrine Caneele, que o dividiu com Emilie Dequenne, do filme Rosetta) e o de melhor ator para Emmanuel Schotté.

Schotté empresta seu olhar sofrido ao protagonista deste novo drama ambientado na cidade de Bailleul, norte da França, onde foi filmado o primeiro longa de Dumont. Como naquele trabalho, o bucolismo da paisagem e a tranqüilidade das pessoas não passam de aparência. Pharaon de Winter, por exemplo, descende de uma linhagem de artistas. Seu nome, que é o mesmo da rua onde mora, veio do bisavô, um pintor consagrado cuja obra é acervo de museus. Mas a vida desta geração da família não guarda mais nenhum glamour. O atual Pharaon é um policial tímido que se horroriza diante da visão do cadáver violado de uma menina de 11 anos.

O encontro desse cadáver, cujo sexo é exposto sem rodeios pela câmera indiscreta de Dumont, deflagra a história, que gira no mesmo ritmo desesperadamente lento de uma vida cotidiana em que as pessoas perderam a capacidade de importar-se com a morte de uma criança. Nessa vida dessensibilizada, a derradeira conexão entre as pessoas reside num sexo um tanto rude, como o praticado por Domino e Joseph, que às vezes o vizinho policial espia. Da praia local, enxerga-se a Inglaterra do outro lado do oceano. Mas ninguém parece lembrar que navegar é possível.

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